Após parto inesperado durante as férias nos EUA, casal de turistas recebe a conta: R$ 2,4 milhões. Episódio reacende discussão sobre mercantilismo da medicina privada
A classe média deslumbrada, que quer comprar enxoval de bebê nos EUA – como os juízes que reclamam de não poder comprar ternos em Miami – deveria prestar atenção no terrível episódio envolvendo a turista canadense Jennifer Huculak-Kimmel e ver aonde a gula da medicina privada pode chegar. As informações são da CBC News e do Daily Mail.
Jennifer, grávida, viajou com o marido para passear no Havaí. Prudente, fez um seguro-saúde com a empresa Blue Cross.
Por acaso – e possivelmente por uma infecção urinária contraída durante a gravidez – ocorreu um inesperado estouro de bolsa e ela teve de fazer um parto prematuro.
Até aí, algo infelizmente não muito raro e perigoso para mãe e bebê.
Mas o “original” veio depois, quando recebeu a conta da internação que, como é comum quando o prematuro tem muitos problemas, durou dois meses.
A “notinha” era de “apenas” US$ 950 mil, ou R$ 2,4 milhões.
E, claro, o tal seguro saúde não a cobriu, alegando que não fez seguro para a criança.
Deixando de lado o drama pessoal da mãe e de sua criança, é o caso de perguntar que tipo de sistema de saúde é este?
Mercantilismo total. Extorsão sobre uma criança e uma mãe fragilizados.
É isso o que queremos para o Brasil?
Mesmo para quem pode pagar – e paga, bem caro – por um parto, ainda mais numa situação de emergência, será que podemos deixar que a saúde e a vida das pessoas sejam submetidas a isso?
Claro que uma UTI neonatal é cara, mas chegar-se ao ponto de cobrar R$ 40 mil por diária?
Pesquisem e vejam como a coisa anda por aqui. Não chega a isso, claro, mas não vai ser difícil achar preços de R$ 4 ou 5 mil por dia, sem contar a equipe de médicos…
Um sistema de saúde que chega a isso não é de saúde, mas de completa doença social.
Será que isso não escandaliza os nossos médicos, que sabem que estes valores são subsidiados pelos contribuintes, pois despesas médicas são dedutíveis no Imposto de Renda?
É fácil chamar de escravos os médicos cubanos que vêm trabalhar por salários modestos. Difícil é chamar de mercenários quem faz coisas como estas com um criança recém-nascida, prematura, em sério risco de morte.
Podem achar que são deuses. Mas os que fazem isso só podem mesmo ser demônios.
Fernando Brito, Tijolaço
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