Jair Bolsonaro não é controverso. É um monólito intransponível formado por uma ideologia quase que fascista. Não porque desrespeita as minorias; na verdade ele não as concebe como movimento existente.
Mailson Ramos*
Jair Bolsonaro é um militar de reserva e político brasileiro. Os textos biográficos espalhados pela internet iniciam justamente com esta epígrafe. É uma apresentação superficial do que têm representado as posições pessoais e políticas deste homem, seus embates carregados com a fúria conservadora. Bolsonaro é representante incondicional de um período amargo repudiado pelos brasileiros em geral: a ditadura. Idosos ou jovens, mulheres ou crianças, professores ou alunos, quem sentiu na pele ou leu nos livros de história, todos devem se lembrar do período sombrio que foi a intervenção golpista de 1964.
Enquanto diz não temer os processos diante das ofensas que direciona aos pares, às minorias e aos Direitos Humanos, Bolsonaro chama a atenção da mídia. Corre-se o risco de que sua figura caricata de quem sempre diz a verdade prevaleça ante sua face obscura e seus projetos de poder conservadores ligados à negação dos direitos civis e humanos.
É torpe, insensato e desmedido. Parece chamar a atenção para si de uma maneira extremada e quase totalitária. O gênio arbitrário e, sobretudo autoritário concede-lhe um posicionamento estratégico no topo das notícias. Faz bem aos veículos definir um status midiático a uma figura controversa.
Mas Jair Bolsonaro não é controverso. É um monólito intransponível formado por uma ideologia quase que fascista. Não porque desrespeita as minorias; na verdade ele não as concebe como movimento existente. E isso é muito grave. O Brasil tem na Câmara Federal de deputados um sujeito extremamente conservador que é capaz de agredir uma mulher (Deputada Maria do Rosário) de uma forma tão grotesca que é difícil analisar a debilidade de consciência do sujeito. É preciso que os parlamentares e os partidos discutam o real significado de ter Bolsonaro como legislador. Não é possível aceitar suas intervenções e posições antidemocráticas.
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O Brasil segue um caminho tortuoso para reconhecimento de todo o seu povo, com as diferenças sociais gritantes de uns e os desafios inacabáveis de outros. Quando não se respeita o direito alheio, as perspectivas de avanço são tolhidas. Há um atraso existencial quando o assunto é políticas públicas de igualdade, determinando uma longa espera pelo simples direito de ser humano e pertencer a uma sociedade digna.
O Brasil não precisa de parlamentares com a indignidade de Bolsonaro e sua ideologia ditatorial. Um sujeito extremado capaz de ofender uma mulher publicamente e incapaz de responder às críticas recebidas com críticas leais, baseadas em fundamentos políticos. Eis a diferença entre um político sério e um destemperado.
Vejamos se nos próximos dias a investida de alguns partidos contra Bolsonaro no Conselho de Ética surte efeito. É preciso acreditar na força das instituições contra este movimento conservador que faz ruir as mais simples concepções de respeito à mulher, por exemplo. Uma força intransigente e dotada da mais profunda aversão ao direito individual.
A Comissão Nacional da Verdade divulgou todos os documentos das investigações desde sua fundação em 12 de maio de 2012. Divulgaram-se os nomes dos desaparecidos e reavivou-se no seio das famílias eternamente estigmatizadas a nefanda máscara do regime militar. É deste regime que nasce o político Bolsonaro. É esta ideologia que tenta injetar á força no sistema democrático. Espero que a democracia reaja com antígenos cataclísmicos.
*Mailson Ramos é escritor, profissional de Relações Públicas e autor do blog Opinião e Contexto. Escreve semanalmente para Pragmatismo Político.
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