Muito tem se falado nas últimas semanas sobre a desaparição de 43 jovens no país, e sendo a estrutura política a causa profunda da situação crítica de violência no México, a eleição dos 500 parlamentares da Câmara dos Deputados é uma chance do povo, através da democracia, colocar o país na rota do progressismo, preparando a vitória presidencial de Marcelo Ebrard em 2018
Nicolas Chernavsky*
Recentemente o México voltou às manchetes no mundo pela desaparição de 43 jovens. Este episódio vem se somar ao que nos últimos anos vemos como uma sequência de notícias sobre violência no país, que causa a impressão de que o México passa por uma fase ruim em termos civilizatórios. Assim, muito se critica o Estado mexicano, especialmente seu presidente Enrique Peña Nieto. Mas além de criticar, quais são as perspectivas e os caminhos concretos e factíveis para o México dar a volta por cima e se juntar a grande parte da América Latina que vem melhorando aceleradamente o padrão de vida de sua população? A resposta está justamente naquilo que vem produzindo esse desenvolvimento da América Latina: a democracia. É dela que vai sair a resposta para essa situação do México.
E como? Para isso temos que ter em mente quais são as oportunidades do povo do México de modificar eleitoralmente a estrutura política do país. Uma característica relativamente importante do sistema político do México é o longo tempo entre uma eleição presidencial e outra (6 anos). Em um país presidencialista, isso acaba afastando o povo por muito tempo das principais decisões do Estado. Mas enfim, esse tempo de mandato é uma realidade, o que significa que os mexicanos só vão poder trocar o presidente em 2018. O parlamento do país, bicameral, tem a eleição para o Senado coincidindo com a eleição presidencial e a eleição para a Câmara dos Deputados a cada 3 anos, sendo que esta última vai ocorrer em 7 de junho de 2015. Tratando-se de medidas concretas e efetivas que o povo mexicano possa tomar, essas eleições daqui a seis meses merecem uma atenção especial.
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Serão 500 cadeiras em disputa, das quais 300 são por voto distrital, com eleição de uma pessoa por distrito sem segundo turno, e 200 por voto proporcional. Na eleição distrital, o sistema eleitoral faz com que os dez partidos políticos mexicanos tenham que tomar muito cuidado para não gerar eleitos muito pouco representativos, uma vez que é possível que o eleito tenha, por exemplo, 25% dos votos, afinal, quem tiver individualmente mais votos vence, sem um segundo turno para se conseguir mais de 50%. Essa lógica faz com que as negociações que no Brasil, por exemplo, ocorrem entre o primeiro e o segundo turno, ocorram antes do primeiro turno, mas sem ter havido esse primeiro turno para que se possa avaliar a votação popular. Assim, em uma eleição parlamentar em distritos, nem com as pesquisas eleitorais se pode contar com muita eficácia para negociar as candidaturas. As decisões dos partidos sobre lançar candidaturas ou se aliar a outros acaba sendo tomada com base em parâmetros muito menos próximos da opinião popular do que em sistemas com segundo turno.
O fato é que isso gera uma imprevisibilidade especialmente grande nas eleições para a Câmara dos Deputados no próximo dia 7 de junho. No espectro político do país há uma série de partidos da região mais progressista deste espectro, como o PRD, o PT, o Movimento Cidadão e o Morena, enquanto que os principais partidos do espectro político mais conservador são o PRI e o PAN. Atualmente, PRD, PT e Movimento Cidadão somam 27% da Câmara de Deputados, enquanto que o PRI (do presidente Peña Nieto) e o PAN somam 65%. Outros partidos relativamente conservadores do espectro político somam os outros 8%. Nessa eleição de 2015 concorrerá pela primeira vez o partido Morena, fundado por Andrés Manuel López Obrador, que foi o principal candidato progressista nas duas últimas eleições presidenciais em 2006 e 2012, respectivamente com 35,33% e 31,59% dos votos.
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Apesar dessa eleição parlamentar daqui a seis meses ser a mais próxima, é a eleição presidencial que estabelece a direção política do país no espectro político de progressismo e conservadorismo. Assim, essas eleições de junho acabam sendo uma prévia das eleições presidenciais de 2018. As esperanças progressistas do país estão concentradas na possível candidatura presidencial de Marcelo Ebrard, que foi prefeito da Cidade do México de 2006 a 2012. Ebrard, filiado ao PRD, é líder da organização civil Movimento Progressista, cujo objetivo é organizar as entidades e partidos políticos progressistas do México, uma vez que o sistema eleitoral não dará margem para que o progressismo se organize em uma candidatura unificada “após o primeiro turno” (como acontece no Brasil), pois não há segundo turno. Por uma série de razões, como popularidade, experiência administrativa e capacidade de articulação política, Marcelo Ebrard é de longe a grande esperança progressista para 2018. Em 2015, o México vai poder mostrar nas urnas o quão perto está ou não de eleger um presidente progressista. Além disso, as eleições de 2015 serão uma grande oportunidade para tentar influenciar os últimos três anos de governo de Peña Nieto, inclusive quanto à questão da violência do país, com a perspectiva de derrota eleitoral presidencial pressionando o atual governo a mostrar resultados mais efetivos para a melhora do padrão de vida do povo mexicano.
*Nicolas Chernavsky é jornalista formado pela Universidade de São Paulo (USP), editor do Cultura Política e colaborador do Pragmatismo Político
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