Mailson Ramos
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Humor 02/Dez/2014 às 12:50 COMENTÁRIOS
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Chaves: o perfil social de um menino de rua

Mailson Ramos Mailson Ramos
Publicado em 02 Dez, 2014 às 12h50

Chaves se diferencia de todos os outros personagens criados por Bolaños. Mas todos eles têm um caráter específico destinado à análise sociológica, afinal são personagens com algum grau de envolvimento com a sociedade ou com outros sujeitos sociais.

Chaves menino de rua pobreza fome
Chaves menino de rua (Reprodução)

Mailson Ramos*

Chaves foi um memorável personagem criado por Roberto Gómez Bolaños. Mas não foi apenas isso. Chaves marcou a infância de milhões de pessoas por todo o globo terrestre. Sua história, engendrada nas especificidades da vida latino-americana, não teria outro roteiro senão a vida de um menino de rua fadado aos sonhos mais simples. Chaves faz sucesso ainda hoje porque ainda hoje existem meninos de rua, espalhados pelas vilas e calçadas do mundo, sonhadores, embora cerceados deste direito.

O humor de Bolaños talvez tenha representado o entorpecente ideal para discutir socialmente um mal que afeta os países sul-americanos e o próprio México. Com uma pitada de irreverência e até mesmo inocência era possível discutir a fome, a orfandade, a falta de um lar, os estigmas mais diversos sobre o personagem Chaves. É preciso pensar que a sociedade não tem se preocupado muito com os menores abandonados, embora tenham sido realizados alguns avanços desta problemática.

Mas a genialidade Roberto Gómez Bolaños não esteve presente somente na criação do personagem, mas em toda configuração do roteiro do seriado. O personagem Chaves necessitava de um enredo cujos personagens secundários desempenhassem um enlace direto à sua história. De modo que é possível afirmar: não haveria Chaves se não houvesse o Quico, a Chiquinha ou o Seu Madruga. Estes e os outros personagens configuram o status social do protagonista. Para o Chaves ser menino de rua, que brinca com caixa de sapato e garrafas, deveria existir um Quico, mimado, cheio de presentes e brinquedos.

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Chaves se diferencia de todos os outros personagens criados por Bolaños. Mas todos eles têm um caráter específico destinado à análise sociológica, afinal são personagens com algum grau de envolvimento com a sociedade ou com outros sujeitos sociais. Enrique Segoviano, produtor e diretor de Chaves e Chapolin Colorado, tem sua parcela de responsabilidade na construção dos seriados. Cabe dizer que vários fatores confluíram para o alcance do sucesso que foi Chaves. Mas é sempre importante reforçar que a história do menino de rua alegre e sonhador, apesar das adversidades, é o que transformou um roteiro previsível numa superprodução da TV mexicana.

Fãs espalhado pelo mundo inteiro lamentam a morte de ‘Chespirito’; perde-se um artista na acepção da palavra. Um sujeito que sabia atuar, escrever, dirigir, produzir e fazer humor.

É possível pensar que pessoas dessa envergadura costumam nascer de mil em mil anos, de modo que a vaga esperança em ver outro Bolaños só não é mais desesperadora porque o temos em nossas memórias eletrônicas e biológicas. E cabe a nós salvaguardar este legado para as próximas gerações.

Leia também: O segredo do humor de Roberto Bolaños, criador de Chaves e Chapolin

Cresci assistindo o Chaves. E quem não assistiu? Em certo período, onde as informações não eram compartilhadas com a facilidade de hoje, imaginava que nenhum dos atores fosse vivo. Depois descobri que apenas Ramón Valdés (Seu madruga) e Angelines Fernández (Dona Clotilde) não eram mais vivos. Acompanhei nos últimos tempos a empreitada de Bolaños no Twitter, mas a saúde fragilizada impedia sua proximidade com o público. A verdade é que os homens nasceram para deixar um legado. E se o legado permanece aos que ficam, trabalho cumprido. Obrigado ‘Chespirito’!

*Mailson Ramos é escritor, profissional de Relações Públicas e autor do blog Opinião e Contexto. Escreve semanalmente para Pragmatismo Político.

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