A fórmula dinamarquesa para combater a obesidade infantil
Um projeto que incentiva mudanças no estilo de vida de crianças e suas famílias está sendo adotado na Dinamarca com o objetivo de combater a obesidade infantil – hoje uma epidemia global.
Na cidade dinamarquesa de Holbaek, 1,9 mil crianças foram atendidas e 70% delas conseguiram manter um peso adequado por quatro anos após ajustar até 20 aspectos de seu estilo de vida.
A forma como o projeto lida com a criança e seus familiares difere dos “pequenos passos” das dietas tradicionais.
O plano começa com as crianças sendo internadas durante 24h em um hospital para uma bateria de exames, medição da gordura corporal e preenchimento de um questionário sobre hábitos alimentares e padrões de comportamento.
O programa exige amplas mudanças de estilo de vida para derrotar a resistência natural do corpo a perder gordura. Cada criança tem um tratamento personalizado para modificar entre 15 e 20 hábitos diários.
“Não é divertido. É dureza”, diz o médico Jens Christian Holm, que coordena o projeto, a Jakob Christiansen, de dez anos, durante uma consulta.
Jakob pesa 72 kg, pelo menos 20 kg acima do ideal. Ele tem sofrido bullying na escola, depressão, e compensado esses dissabores comendo doces para buscar conforto emocional.
“Ele comia (doces) escondido”, diz a mãe, Elisabet. “Só queremos que os médicos ajudem Jakob a perder peso para que ele volte a ser um menino feliz.”
Jakob conta ao médico que pedala 3 km para ir à escola. Mas o exercício, por si só, não basta para combater o que o pediatra chama de “doença crônica”.
Entre um teste e outro, o menino almoça peito de frango sem pele, cenoura crua, pimentão vermelho e salada verde.
“Vai ser difícil, mas lutarei com todas as minhas forças. Sei que vou sentir falta do açúcar e de ser preguiçoso”, diz Jakob.
‘Negligenciadas’
“Em geral, crianças obesas são negligenciadas”, argumenta Holm, acrescentando que a obesidade é algo muito difícil de combater sozinho.
“São muitas vezes solitárias e muitas não participam de atividades com seus colegas. Têm baixa autoestima. Com o programa, elas têm uma chance real de perder peso e melhorar sua qualidade de vida.”
A mudança de hábitos é essencial para evitar que a obesidade persista e que os pacientes “se sintam frustrados e perdidos”.
Holm acredita que o programa possa ser replicado em outros países. Até o momento, foi adotado por oito cidades dinamarquesas.
No distrito de Hedensted, oeste do país, o projeto é coordenado pela agente de saúde Rikke Christensen, que diz que a abordagem é melhor do que outras usadas no passado.
“Infelizmente, vimos diversas vezes como era difícil envolver as famílias. Agora finalmente encontramos uma forma”, diz.
Um de seus casos de sucesso é o de um menino de nove anos que tinha 40% de gordura corporal e pressão alta. Era introvertido, ia mal na escola e evitava exercícios físicos.
Ele ainda está em tratamento, mas reduziu sua gordura corporal em 25%. Está mais expansivo, participou de uma corrida de 5km e começou a jogar futebol.
Mudança de vida
Holm é um forte crítico do tempo que as crianças gastam passivamente diante do computador ou da TV. Algumas ficam grudadas na tela por até 12 horas diárias – sendo que o limite defendido por ele é de 2 horas.
“Toda a vida precisa mudar, porque (as crianças) tendem a ficar solitárias, envergonhadas de si mesmas. Elas precisam interagir com outras crianças em sua vida diária.”
Os participantes do programa de Holm também têm que dormir na hora certa, para garantir uma quantidade adequada de horas de sono. Algumas pesquisas sugerem que isso pode ajudar a controlar a obesidade, ao regular hormônios e reduzir o ímpeto do corpo cansado de consumir “bobagens”.
Mike Nelausen, 14, se tornou um caso de sucesso para o projeto em Holbaek: perdeu 25 kg dos 85 kg que pesava e parou de ser alvo de bullying.
“O começo foi difícil, mas ficou mais fácil quando se tornou parte da minha rotina“, diz ele.
“Eu vivia triste por causa do bullying, mas agora estou mais magro. E mais feliz, tenho mais energia. E não fico mais desanimado quando subo na balança.”
Sua mãe, Karina, chora ao recordar a vida antes da reeducação de hábitos. “Era muito difícil vê-lo daquele jeito. Tentávamos de tudo, e ele continuava a ganhar peso. Quando finalmente começou a funcionar, ficamos muito felizes.”
No jantar, Mike come apenas uma porção de comida, em vez das três que consumia antes, regada a água com gás.
Mais tarde, mesmo sob chuva, ele sai de casa para sua corrida noturna ao redor do bairro, determinado.
Como disse Holm, o programa não é fácil, mas os resultados podem ser gratificantes.
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Malcolm Brabant, BBC