Do Palácio dos Bandeirantes, Geraldo Alckmin não tem reclamado publicamente, mas ficou claro, no ato em Brasília, ao lado de Dilma, que ele não irá se alistar em nenhuma tropa de choque partidária
O quarteto do ‘quanto pior, melhor’ não está mais fazendo apostas sozinho no PSDB. Na contramão da radicalização empreendida contra o governo federal pelos senadores Aécio Neves e Aloysio Nunes e os deputados Antônio Imbassahy e Carlos Sampaio, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, se posicionou. No melhor estilo bombeiro, com calma e equilíbrio, ele foi claro, nesta quinta-feira 4, em Brasília, ao assinar contratos com a presidente Dilma Rousseff para a realização de obras contra a crise hídrica no Estado:
– O bom diálogo como este e a boa parceria como esta, vão continuar, resumiu o governador paulista, que enalteceu a colaboração entre a administração federal e o governo paulista. Pelos contratos assinados hoje, o Estado terá condições de realizar obras contra a seca estimadas em R$ 3,6 bilhões.
Do Palácio dos Bandeirantes, Alckmin não tem reclamado publicamente, mas ficou claro, no ato em Brasília, ao lado de Dilma, que ele não irá se alistar em nenhuma tropa de choque partidário.
No mesmo tom, no mês passado, o governador de Goiás, Marconi Perillo, avisou ao partido que “governo não faz oposição a governo“, também deixando claro que pretende a colaboração com o governo federal, em lugar o enfrentamento.
Os planos do ex-candidato Aécio Neves na presidência da legenda, entretanto, são outros. Ele tem provocado comentários, em diferentes partidos, de que está se mostrando irreconhecível em relação ao político de histórico conservador que sempre foi. Os participantes e observadores da cena partidária também notaram que ele não está abrindo espaço, dentro da agremiação, para a manifestação das lideranças que não concordam com a linha de ataque cerrado, sem tréguas, ao governo federal. Quer seja pelos desdobramentos da Operação Lava Jato ou na tentativa de derrubada de medidas econômicas como fim do superávit primário.
Culto à personalidade
No site do PSDB, nesta quinta 4, assim como nas últimas semanas, só dá Aécio e seus carbonários. A imagem do presidente do partido, por exemplo, ocupa toda a área inicial da home page. A primeira notícia destaca é uma declaração do mesmo Aécio, seguida de informação com as posições do seu ex-candidato a vice Aloysio Nunes e do líder da bancada na Câmara Antônio Imbassahy. Logo abaixo frase de destaque é de Carlos Sampaio. E na sessão de vídeos o desequilíbrio se comprova. Dos seis ‘filmes’ expostos, os seis têm Aécio como personagem único e principal. Um deles, abaixo:
Os aecistas comandaram a oposição cerrada ao governo na votação sobre o fim da obrigatoriedade de superávit primário. Os argumentos de que essa trava orçamentário já não existe em nada menos que 16 dos 20 países mais ricos do mundo foram solenemente ignorados. Assim, foram necessárias 19 horas para que o Congresso votasse favoravelmente à matéria, a partir de uma maioria que já era nítida desde o primeiro minuto da assembleia congressual.
Jogando para impedir o governo de obter o fim do superávit fiscal, fechar suas contas em 2014 e, assim, tentar iniciar um ciclo de ajustes com uma nova equipe econômica e renovadas expectativas do mercado, a partir de janeiro de 2015, o quarteto tucano jogou o mais pesado que pode.
Apesar de derrotado nas eleições de outubro, nas quais perdeu nos dois turnos dentro de Minas Gerais, onde foi governador por duas vezes, Aécio continua passando a impressão de seguir inconformado com o resultado das urnas. Ele passou praticamente todo o tempo da longa votação da mudança nas regras do superávit usando termos pejorativos e definitivos contra seus próprios pares.
– Está provado que cada um aqui tem um preço, que dizem ser de cerca de R$ 700 mil. É como se a presidente Dilma tivesse colocado um cifrão na testa de cada parlamentar, disse o agora belicoso senador mineiro.
A afirmação pegou mal para ele. O governo enviara um medida provisória pela qual, com transparência, informava que só poderia liberar recursos para emendas parlamentares, num total de R$ 444 milhões, se, antes, o Congresso liberasse o mesmo governo da obrigação, este ano, da feitura de um superávit de quase R$ 90 bilhões. A compreensão sobre a conexão entre os dois assuntos não é difícil de ser feita, ainda mais para um político experiente como Aécio. Ficou claro para a maioria do Congresso, como mostraram as vitórias do governo no voto, que, amarrado ao superávit, simplesmente não haveria condições financeiras para a administração federal liberar as verbas pretendidas. Uma questão de matemática.
Neste trabalho de barrar os trabalhos do Congresso, o deputado baiano Antônio Imbassahy se colocou como operário de primeira hora.
– A partir de agora é obstrução a tudo, resumiu ele, revoltado com a vitória do governo, sempre pelo voto, na Comissão Mista do Orçamento.
Noutra frente, a do impeachment, o senador Aloysio, ex-vice de Aécio, municia a mídia com ilações sobre o risco de a presidente Dilma Rousseff não ter suas contas de campanhas aprovadas pelo ministro Gilmar Mendes, que as examina.
– Por enquanto não é o caso de falar em impeachment, mas o rito processual a partir da rejeição das contas inclui essa possibilidade, tem dito ele, com larga frequência. Um trabalho de fôlego para a criação de um clima de ruptura institucional.
Para contribuir com o posicionamento dos aecistas, o Instituto Teotônio Vilela (ITV), também sob controle do presidente do partido, escapa da qualidade de formulador das políticas partidárias para adotar uma postura de tablóide sensacionalista. Basta ver as charges com a quais os, digamos, pensadores do ITV contemplam a presidente reeleita. Abaixo:
Ao mesmo tempo, o ITV produz platitudes como esta:
– A cadeia lesiva ao interesse público que precisa ser exemplarmente punida, chegando aos mais altos graus da hierarquia que conseguir.
A referência, no caso, é ao escândalo de corrupção descoberto pela Operação Lava Jato, com a Petrobras no centro dos acontecimentos. É claro que todos os que militam por um Brasil melhor querem a apuração integral dos fatos. Inclusive nos termos dados pela própria presidente: “Doa a quem doer“.
A Justiça está seguindo seu curso, sem obstáculos, assim como o trabalho da Polícia Federal flui sem intervenções dos demais entes do aparelho do Estado. Para o ITV aecista, no entanto, parece que ainda vigora o Estado de exceção – ou será que isso que se busca?
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