Os refugiados do Oriente Médio no Mar Mediterrâneo
A cada 4 segundos, uma pessoa é forçada a fugir no Oriente Médio. O drama dos refugiados para chegarem à Europa faz com que alguns sonhos naufraguem muito antes de se tornarem realidade.
Lucien de Campos*
A Guerra Civil Síria já deixou mais de 200 mil vitimas fatais em 4 anos de conflito. E com o progresso do Estado Islâmico na região, o número de refugiados, que já era alto, aumentou para mais de 3,2 milhões de pessoas. Os conflitos armados no Oriente Médio massacram a população, e não há proteção aos civis. A comunidade internacional culpa o governo e os grupos armados. O Oriente Médio é hoje palco das violações aos direitos humanos.
O espaço de proteção das Organizações Internacionais para os refugiados no Oriente Médio está diminuindo pelo avanço do Estado Islâmico. Segundo Heloise Ruandel (Diretora do Programa de Política do Centro de Estudos de Refugiados da Universidade de Oxford) “Deve ser feito um plano em longo prazo. A comunidade internacional deve fornecer mais proteção para assegurar a proteção de iraquianos e sírios, como também estabelecer desenvolvimento do mercado, permitindo que os refugiados trabalhem”.
Neste cenário, milhares de refugiados se deslocam pela terra e pelo mar. A rota do mediterrâneo é particularmente preocupante. Neste ano, mais de 68 mil refugiados sírios chegaram à Europa pelo mar, sendo a maioria, cerca de 40 mil, na Itália. Muitos deles nem sequer sobrevivem, pois as condições nos barcos são deploráveis, e inúmeras pessoas (na maioria mulheres e crianças) morrem em alto mar. Porém, em meio à crise, os países europeus fecham os olhos para o enorme fluxo de refugiados. É indispensável fazer melhor e rapidamente os trabalhos de assistência humanitária, para que a situação não se agrave mais ainda. Apesar da crise, nada é comparável ao sofrimento do povo sírio. É uma questão de solidariedade.
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Muitos políticos europeus tentam ignorar as mortes no mar. Segundo a União Europeia, todos os que querem asilo devem alcançar o território europeu. Mas isso tem como consequência inúmeras mortes e organização de milícias e crime organizado por traficantes que levam as pessoas nos barcos. Há muita resistência de países que não assinaram a concessão de visto de residência para aceitarem os refugiados. O trabalho da ONU é limitado e depende da ajuda dos Estados. Neste momento, a UE prefere trabalhar na prevenção de entradas, do que realizar planos para a proteção dos refugiados. Deveriam estar envergonhados com esta politica.
Apenas alguns países se disponibilizam para acolherem os refugiados, como a Itália, Alemanha, França e Suécia. Um programa amplo de instalação seria uma solução, no qual já foi realizado pela Alemanha. Todos os Estados deveriam cumprir esta solução, através de parcerias privadas. Para Michael Diedring, Secretario Geral do Conselho Europeu para os Refugiados e Exilados (ECRE), “é necessário fazer uma reforma das politicas de vistos na Europa. Os Estados deveriam isentar os vistos para os refugiados, com base nas razões humanitárias. Isso confirmaria o apoio fundamental para a proteção dos refugiados na Europa. O fato das pessoas morrerem no mar é inaceitável. Dada a situação atual, precisa-se de mais liderança politica, sendo inevitável a construção de melhorias nas politicas de asilo”.
O trabalho que o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) tem desenvolvido tanto no Oriente Médio, quanto na Europa é digno e merecedor de elogios. O ACNUR faz o que pode, mas falta maior engajamento dos Estados. Nesta semana, o suíço Beat Schuler, (Coordenador Regional do ACNUR no Sul da Europa) esteve em Lisboa. Em poucas palavras, Schuler, afirmou que “é preciso melhorar as instalações de acolhimento, temos que encontrar mecanismos na Europa para distribuir melhor os refugiados. Espanha somente recebeu 5 mil pessoas até o momento, e poderia receber mais, como também a Polônia”.
Perante a dimensão das tragédias, chegou à altura de elaborar respostas e soluções criativas, sempre em parcerias com as autoridades publicas e a disponibilidade da mobilização da sociedade civil. A comunidade internacional deve preparar o futuro dos refugiados, para criar uma geração de lideres. Este objetivo não é opcional, é obrigatório e deve estar contido na agenda internacional.
*Lucien de Campos é mestrando em Diplomacia e Relações Internacionais pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias de Lisboa e colaborador em Pragmatismo Político