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Política e fé

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Política não é profissão de fé! Quando muito é mera fonte e arcabouço de expectativas. Expectativas não são pra quem quer ter, mas pra quem pode. Expectativas ajudam a viver, mas são terríveis quando frustradas.

André Falcão*

Tenham dó! Política não é profissão de fé, tampouco fé tem alguma coisa a ver com política ou o que mais da vida mundana. No exercício da minha fé em algo que acredito ser Maior — a que, particularmente, chamo Deus —, peço-Lhe, entre outras coisas (sou nada econômico nesse quesito, diga-se), para me dar compaixão, generosidade, saúde, luz, tolerância, humildade, coragem, força, fé. No exercício da luta política, que já é naturalmente outra coisa, esforço-me por um mundo melhor, com as armas que acredito sejam as possíveis e, dentre essas, as melhores. É simples assim.

Vez por outra sou abordado por gente dizendo-se decepcionada porque “acreditava” no PT, e em Lula, até em Dilma (apesar de muitos a terem considerado um poste; poste de muita luz, diria eu), mas que agora estaria estarrecida com a roubalheira que estaria sendo patrocinada por aquele partido, de que é exemplo mais recente a Lava-Jato e, mais famoso, o Mensalão. É, pois, o momento de pelo menos exercitar a tolerância, a compaixão e a humildade concedidas.

Política não é profissão de fé! Quando muito é mera fonte e arcabouço de expectativas. Expectativas não são pra quem quer ter, mas pra quem pode. Expectativas ajudam a viver, mas são terríveis quando frustradas. E elas não raro o são porque a gente não sabe lidar com elas, já que toda expectativa pode trazer em si mesma dolorosa frustração, mais culpa nossa do que dela.

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Porém, até pra tolice há limite. Sabe-se que os desvios de dinheiro público — notadamente aqueles para proveito particular — não são privilégio dos governos do PT ou de seus aliados. E você sabe que por mais que existam padres pedófilos, tarados ou predadores da fortuna do Vaticano; empresários corruptores, sonegadores, escravagistas e exploradores da mão-de-obra; milicos assassinos, covardes, torturadores, ladrões; juízes vendedores de sentença e da própria alma, não se pode confundi-los com a Igreja Católica, com o empresariado inteiro, com nossas Forças Armadas, tampouco com o Poder Judiciário. E ao que se saiba, você continua catolicozinho-da-silva…

Você sabe. Então, se por tolice você se diz decepcionado e desacreditado, receba essas palavras e minha compaixão. Depois analise, leia, investigue, acresça outras leituras às suas já costumeiras (e parcialíssimas) fontes de manipulação. Mas se o que você quer mesmo é arranjar um pretexto pra estar do lado do que de pior existe na política, faça “bom” proveito.

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Mas me poupe. Porque nem a fé aguenta esse blá-blá-blá.

*André Falcão é advogado e autor do Blog do André Falcão. Escreve semanalmente para Pragmatismo Político

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