Não há nada de novo no BBB15 a não ser nos rostos que daqui a três meses estarão conhecidos no Paparazzo, na Playboy ou em algum programa de TV. Ilustres conhecidos que depois se tornam ilustres desconhecidos porque a fama no Big Brother Brasil – raras vezes – tem ultrapassado os quinze minutos
Mailson Ramos*
O BBB15 não é uma inovação. Não é esta edição diferente das anteriores e não será diferente das futuras. A ideia agora é mostrar que o programa retorna às suas origens e que os participantes são pessoas de vida normal, ao contrário do participantes famosos, modelos, empresários, socialites, enfim. O programa ainda é rentável à TV Globo.
Mas não está no ar somente por isso. Ele tem uma audiência impecável, sobretudo quando as histórias dos participantes começam a ser destrinchadas pela produção através das edições. Na televisão quase tudo é produção de sentido e construção de imaginário.
Isso não significa que o BBB15 vai enfeitiçar as pessoas. É simplesmente um produto da indústria cultural com um adesão popular fortíssima, instaurada a partir de estereótipos, erotismo e enredo biográfico. A verdade é que a serialidade deste programa faz com que as pessoas identifiquem o fio da meada sem precisar consultar a memória.
Não há nada de novo no BBB15 a não ser nos rostos que daqui a três meses estarão conhecidos no Paparazzo, na Playboy ou em algum programa de TV. Ilustres conhecidos que depois se tornam ilustres desconhecidos porque a fama no Big Brother Brasil – raras vezes – tem ultrapassado os quinze minutos.
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É preciso retomar o conceito de serialidade para denotar o quão repetitivos são os produtos da indústria cultural. Porque uma das ideias da pós-modernidade é discutir os valores de tradição versus atualização ou novidade. Os programas necessitam manter a imagem de novidade a cada ano ou mesmo se sua exibição é diária.
Numa época em que o noticiário, por exemplo, se fortalece pela rapidez de propagação dos fatos, daquilo que é novidade agora e ultrapassado daqui a um dia, os produtos televisivos são cada vez mais um recorte daquilo que foi exibido anteriormente. Seriais, como sapatos produzidos numa esteira industrial.
O que define a negatividade do Big Brother Brasil, muito mais do que sua serialidade, é o estereótipo do heroísmo. Existem pessoas que permanecem longe de suas famílias por muito tempo, obrigadas ao trabalho para sobreviver. Não podemos contá-las.
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Existem pessoas confinadas em lugares, deparadas com claras diversidades, enfrentando a dificuldade da convivência. Destas não se conta o número. E nem por isso elas são consideradas heroínas ou heróis nacionais. Porque um confinamento programado por uma emissora de televisão se torna ambiente de heróis? Onde está o heroísmo da exposição, do conflito, dos xingamentos ao vivo?
O resultado é a intransigência da análise. Melhor: indissolúvel é a opinião a respeito do BBB15. Não há nada de sensacional senão pela benevolência e superficialidade das análises populares. O povo até gosta. Não há nada de mal nisso. Entretanto, não transformemos em heróis pessoas que aceitaram contratos para, quem sabe, interpretar.
Há muito tempo o Big Brother Brasil deixou de ser inédito. A fórmula esgotada pela dialética entre bem e mal, mocinho e vilão dessalgou o tempero advindo das primeiras edições. De algum modo o caminho desta edição será trilhado com a métrica dos programas globais, ou melhor, como tem sido ao longo de todos os anos.
Naturalmente os patrocínio seguram o programa e não abrem mão de iniciar o ano na tela da TV Globo. O nível nas outras emissoras cai vertiginosamente. A televisão brasileira, em algumas terríveis oportunidades, tem pagado caro por seguir o nefando padrão Globo. E o horário nobre segue o ritmo de intermináveis conceituações: para o limbo da TV, casa da mãe Joana, hora da patifaria; para mim é apenas o horário do BBB15.
*Mailson Ramos é escritor, profissional de Relações Públicas e autor do blog Nossa Política. Escreve semanalmente para Pragmatismo Político.
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