Alguns meios de comunicação chegaram a dizer que o Syriza é o “Podemos grego”. É realmente assim? Conheça cinco diferenças entre os partidos de Alexis Tsipras e Pablo Iglesias
Aitor Riveiro, El Diario. Tradução: Fórum
O partido liderado por Alexis Tsipras venceu as eleições gregas e conta com o apoio de outros partidos de esquerda europeus, e também do Podemos e de seu secretário-geral, Pablo Iglesias. Alguns meios de comunicação chegaram a dizer que o Syriza é o “Podemos grego”. É realmente assim? Quais são as semelhanças e diferenças entre ambos? Estas são algumas das mais significativas.
Diferença 1: Esquerda radical frente à transversalidade ideológica
Syriza é um acrônimo de Coalizão de Esquerda Radical. O partido liderado por Alexis Tsipras se situa assim no eixo clássico esquerda-direita que o Podemos rejeita explicitamente desde sua criação. Pablo Iglesias e Íñigo Errejón têm explicado em várias ocasiões que, em sua opinião, a diferenciação clássica não gera hegemonia política, mas divide. “Nós pretendemos estar no centro do tabuleiro”, chegou a dizer o número 2 de Iglesias.
Diferença 2: Sopa de siglas ou partido?
O nome do Syriza não deixa dúvidas sobre a segunda diferença. O que é hoje um partido iniciou seu caminho em 2004 como uma coalizão de mais de uma dezena de grupos políticos de esquerda, incluindo uma dissidência do KKE, o Partido Comunista Grego. Sua forma jurídica foi a coalizão até as eleições de junho de 2012, quando se converteu em um partido, já que o regulamento local penaliza as coalizões. A lei eleitoral concede um plus de 50 deputados ao partido mais votado.
Podemos, por outro lado, rechaçou a fórmula de coalizão desde a sua origem. O documento político apresentado pela equipe liderada por Pablo Iglesias para a assembleia do último outono, aprovada por ampla maioria, deixa claro: Podemos não participará de uma “sopa de siglas ou uma negociação entre partidos”.
Diferença 3: Afiliação internacional
O Syriza não é esquerda clássica apenas da porta para dentro. É também no âmbito internacional. O partido de Tsipras está integrado ao Partido da Esquerda Europeia. Nele se aglutina boa parte das formações que identificam com a esquerda rupturista e as herdeiras do eurocomunismo. Ao Partido da Esquerda Europeia pertencem, entre outros, IU, o PCE e o EUiA da Espanha; Die Linke na Alemanha; o Partido Comunista Francês, o Bloco de Esquerda de Portugal.
Já o Podemos, até agora, não se inscreveu em nenhuma formação política internacional, ainda que no Parlamento Europeu faça parte de um grupo parlamentar com o Syriza e os demais membros do Partido da Esquerda Europeia. Seus eurodeputados formam o Grupo da Esquerda Unitária/Esquerda Verde Nórdica (GUE-NGL).
Diferença 4: Crescimento eleitoral
Syriza e Podemos são dois exemplos de rápido crescimento eleitoral, ainda que com uma diferença notável: os espanhóis assumiram a liderança das pesquisas com menos de um ano de vida, algo que os gregos levaram mais tempo para realizar.
As europeias foram as primeiras eleições das quais participou o Podemos. Entre janeiro e março de 2014, o partido de Iglesias conseguiu convencer os 1,2 milhão de visitantes (7,98%) e chegou a cinco eurodeputados. Hoje, as pesquisas situam o Podemos na disputa direta do primeiro lugar, e supera em algumas sondagens o PP e o PSOE.
Nessas mesmas eleições, o Syriza foi a força mais votada em seu país. Sua história, entretanto, foi menos fulgurante. Desde seu nascimento como coalizão, obteve resultados desiguais: entre as legislativas de 2004 e as de 2009 seus eleitores superaram os 5%.
Entre 2009 e 2012, ocorre um grande salto. Em maio de 2012, Syriza sobe para o segundo lugar. Um mês depois, são realizadas novas eleições diante da impossibilidade de se formar um governo e o partido de Tsipras continuou sua ascensão em porcentagem de votos, mas de novo teve que se conformar em ficar atrás do Nova Democracia.
Diferença 5: As trajetórias de Alexis Tsipras e Pablo Iglesias
Alexis Tsipras, líder de Syriza, e Pablo Iglesias, secretário-geral do Podemos, quase pertencem à mesma geração e tem quatro anos de diferença de idade entre si. Os cenários vividos pelos seus países nos últimos anos também têm sido semelhantes: uma ditadura militar, uma transição, a entrada na Comunidade Europeia, um crescimento econômico propiciado pela entrada no euro e uma grande crise da dívida.
A relação entre ambos é, segundo fontes do Podemos, muito boa em nível pessoal, com contatos diretos. Tsipras tomou parte, em novembro, da escolha de Iglesias como líder do Podemos. O espanhol participou do encerramento da campanha do Syriza antes das eleições de domingo (25). As citações entre ambos no Twitter são habituais.
Menos semelhanças podem ser encontradas na forma como chegaram ao cargo que ocupam agora em seus partidos. Tsipras chegou à universidade, onde foi líder estudantil, como militante do Partido Comunista Grego. De pronto, se converteu em uma figura política importante: dirigiu primeiro a juventude de um dos partidos que acabou integrando o Syriza, liderou uma candidatura unitária à prefeitura de Atenas e, finalmente, entrou no Parlamento grego.
A ascensão de Iglesias foi mais meteórica. Ainda que o líder do Podemos sempre tenha participado de uma forma ou de outra da política, seu trabalho na área sempre esteve em segundo plano. Iglesias militou na União de Juventudes Comunistas da Espanha, mas logo a abandonou. Depois se centrou mais nos estudos do que na atividade política institucional, mesmo tendo assessorado e participado ativamente nas campanhas eleitorais da Esquerda Unida, sempre em postos menores. O público começou a conhecer Iglesias a partir de 2012, de forma muito limitada a princípio, até quando, em 2014, ele anunciou sua intenção de dar um salto para a política ativa.
Semelhança 1: Moderação sobre o problema da dívida
O problema da dívida pública é um dos principais das economias espanhola e grega. Embora a magnitude não seja comparável (a Espanha deve 100% do seu PIB; a Grécia, quase 175%), tanto Syriza como Podemos compartilham uma análise similar sobre qual seria a solução. E ambos também moderaram suas propostas: do não pagamento a uma espécie de moratória, com o condicionamento do pagamento ao crescimento econômico, podendo assim dedicar mais recursos para injetá-los na economia. Um quadro definido como keynesiano e do qual partilham os dois partidos.
Semelhança 2: Fim da austeridade
Podemos e Syriza também têm semelhante postura ante às imposições da troika e dos cortes orçamentários que a Europa e o FMI impuseram aos países do sul da Europa. Tanto Iglesias como Tsipras atacaram a austeridade tida como suicida e as consequências que ela tem sobre a população.
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