Eduardo Tavares de Farias*
Destaquei no artigo do dia 11 de novembro que a presidenta reeleita, Dilma Rousseff, tem atuado no cenário internacional visando, prioritariamente, ao incremento e à consolidação das relações com os países da América Latina e do Caribe. Como apresentei as questões políticas, agora me dedicarei às geoeconômicas para destacar as razões que comprovam que o modelo de política externa de Rousseff é o mais conveniente aos interesses da Costa Rica.
O país não tem apresentado bons sinais no comércio exterior. No período 2010-2013 o Banco Central de Costa Rica (BCCR) registrou déficits de $ 4,1, $ 5,8, $ 6,1 y $ 6,4 bilhões de dólares. Além disso, em 2013, 38,8% dos produtos exportados foram destinados aos Estados Unidos (EUA), enquanto 49,8% dos bens importados chegaram desse mesmo país. Esta realidade demonstra que a Costa Rica ainda não superou a dependência do mercado estadunidense. Tal fato persiste desde a Segunda Guerra, quando o mercado europeu – que era destino da metade dos produtos hecho en Costa Rica – fechou as portas e, consequentemente, obrigou ao país a buscar uma alternativa. Na ocasião, optaram por intensificar as relações com os EUA.
A dependência piorou nos anos 1980 não apenas como consequência da política econômica neoliberal e da crise regional, mas também como resultado de dois episódios: um concernente a moratória sobre o pagamento da dívida externa no governo de Rodrigo Carazo, fato que forçou o sucessor, Luiz Alberto Monge, a aproximar-se de Ronald Reagan – então presidente dos EUA, interessado em utilizar a Costa Rica para derrotar a revolução sandinista; y, o outro, referente a Iniciativa de la Cuenca del Caribe (ICC), conjunto de medidas para “promover o desenvolvimento dos países da Cuenca”, dentre as quais, uma medida que permitia os produtos centro-americanos ingressarem no mercado estadunidense livres de impostos. Por um lado a ICC ajudou a Costa Rica a superar a crise dos 80, mas, por outro, dificultou diversificar seus sócios comerciais.
Na América Central, Costa Rica é o principal exportador para Brasil e o segundo sócio em intercambio comercial. Os países alcançaram uma corrente de comercio, em 2013, de US$ 750,8 milhões ($ 448,5 milhões em exportação costarriquenha) e ao redor de $ 424 milhões até setembro deste ano (sendo $ 245,4 milhões exportados). Desde 2009 os costarriquenhos têm sido superavitários e têm logrado exportar mais de 80% em produtos manufaturados, pontos chave para valorizar as relações com o atual governo brasileiro.
O candidato derrotado, Aécio Neves, destacou a pretensão de assumir uma posição “mais pragmática” de política externa, sobretudo no campo comercial. Isto nos leva a interpretar que se tratava de uma ideia com tendência expansionista-econômica do tipo “negócios são negócios”. Um exemplo era o interesse em se alinhar ao bloco Aliança do Pacifico.
Geopoliticamente, a inserção do Brasil em dito bloco poderia resultar no deterioramento do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), pois este já não seria considerado por ele um bloco estratégico para a promoção e a defesa dos interesses da região, passando, assim, a ser só mais uma ferramenta estritamente econômica. De acordo com o plano de governo do PSDB, os objetivos da política externa, em geral, eram:
I) restabelecer a primazia da liberalização comercial;
II) flexibilizar regras; e,
III) aprofundar os acordos com terceiro países.
O MERCOSUL é um dos blocos mais importantes da região e um dos que tem trabalhado para estreitar as relações entre os vizinhos e para promover a integração como meio de alcançar o desenvolvimento.
Os objetivos são, definitivamente, compatíveis com as missões da União de Nações Sul-Americanas (UNASUL) e da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), sendo este último presidido por Costa Rica até janeiro de 2015. Enquanto a oposição desqualifica tais blocos, estes mesmos são os que compõem a “tríade da integração” do governo Rousseff, considerada um dos principais projetos de desenvolvimento do país, como já mencionei.
Em resumo, o modelo de política externa de Dilma apresenta as melhores condições não só para o incremento comercial, mas, também, para os: geopolítico, financeiro, social, cultural, científico, tecnológico, ideológico e outros. Ademais, o Brasil atual se destaca no tabuleiro internacional como uma das principais vias para a Costa Rica ampliar seus planos pertinentes ao processo de integração latino-americana, questões ainda pouco discutidas nos círculos de tomadas de decisões do país.
*Eduardo Tavares de Farias é jornalista, mestrando em filosofia na Universidade de Costa Rica (UCR) e traduziu e colaborou para Pragmatismo Político. Texto originalmente publicado no jornal da Costa Rica Semanario Universidad
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