Meios de comunicação que venderam o fim do Brasil estão morrendo antes dele. Demissões atingem centenas de trabalhadores. Sindicato dos Jornalistas divulga nota de repúdio: “trabalhadores são materiais descartáveis aos olhos dos empresários ávidos por mais lucros”
A semana que termina nesta sexta-feira escancarou a crise dos meios de comunicação brasileiros. Primeiro, foi a Abril, em São Paulo, quem entregou metade dos andares que ocupa e viu o busto do fundador Victor Civita ser removido. Em seguida, o Estado de Minas demitiu 11 profissionais experientes e foi repreendido pelo sindicato dos jornalistas por ter misturado jornalismo e política, de forma tão explícita. Agora, é o Globo que corta cerca de 160 profissionais. Entre os demitidos, está a editora-assistente do caderno Rio, Angelina Nunes, que trabalha em O Globo desde 1991. O colunista de Cultura Artur Xexéo também foi dispensado pela direção do jornal.
Há um ponto em comum entre esses três grupos editoriais. Todos, no último ano, adotaram o discurso de que o Brasil rumava para o caos. Engajados na campanha do senador Aécio Neves (PSDB-MG) à presidência da República, o que foi feito de forma explícita por Zeca Teixeira da Costa, diretor do Estado de Minas, esses veículos venderam a ideia de que a economia brasileira, mesmo com pleno emprego e inflação na meta (ainda que no topo), mais cedo ou mais tarde afundaria.
Tal discurso contaminou as expectativas empresariais, reduzindo investimentos. E os primeiros a sofrer foram os grupos de comunicação. Os patrões venderam o caos, mas os jornalistas e profissionais de outras áreas é que pagam o pato.
Sindicato dos Jornalistas repudia demissões
Em nota, o Sindicato dos Jornalistas ironizou os motivos alegados por O Globo para demitir. Ao contrário do que alega (otimização, revisão de processos, reestruturação) que, para o sindicato, são “eufemismos corporativos” que foram “usados pela Infoglobo para justificar demissões em série de jornalistas de O Globo“.
“Os cortes na redação causaram indignação e comoção em toda a categoria dos jornalistas profissionais do Rio por enviar o claro recado de que trabalhadores são materiais descartáveis aos olhos de empresários ávidos por mais lucro. As demissões atingiram desde repórteres com pouco tempo de casa até ‘medalhões’ da imprensa carioca, como colunistas e jornalistas premiados”, diz a nota do sindicato.
A seguir, confira a nota na íntegra:
Nota do Sindicato em repúdio às demissões em série na Infoglobo
Otimização, revisão de processos, reestruturação. Eufemismos corporativos foram usados pela Infoglobo para justificar demissões em série de jornalistas de ‘O Globo’ nesta quinta-feira (08/01). Os cortes na redação causaram profunda indignação e comoção em toda a categoria dos jornalistas profissionais do Rio por enviar o claro recado de que trabalhadores são materiais descartáveis aos olhos de empresários ávidos por mais lucro. As demissões atingiram desde repórteres com pouco tempo de casa até ‘medalhões’ da imprensa carioca, como colunistas e jornalistas premiados. O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro repudia as demissões promovidas pela Infoglobo e coloca-se à disposição de todos os jornalistas dispensados.
Ao Sindicato, a empresa negou que esteja em crise e tratou as demissões como uma ‘medida de otimização após a revisão de dos processos da empresa’. Essa revisão, ainda segundo a Infoglobo, ‘constatou que haviam diferentes unidades produzindo o mesmo tipo de trabalho’ e a necessidade de ‘um modelo de convergência’. A explicação, fria, vaga e tecnicista, só demonstra o lamentável descaso da Infoglobo com profissionais que dedicaram anos de sua vida ao sustento e ao crescimento do jornal. Indignada, a nossa diretoria cobrará mais explicações da empresa em reunião marcada para o início da semana que vem.
Além da frieza cruel ao tratar da dispensa de profissionais com lastro no jornalismo, a Infoglobo ainda promoveu um verdadeiro clima de terror em suas redações ao não comunicar os demais trabalhadores sobre os cortes – que também atingem outras áreas da empresa. O nosso setor jurídico analisa possíveis irregularidades cometidas pela empresa durante as demissões. O Sindicato fará ainda a fiscalização cerrada sobre as homologações para que nenhum direito deixe de ser compensado a esses jornalistas. Hoje é um dia triste para o jornalismo brasileiro.
Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro”
com Sindicato dos Jornalistas do RJ, 247 e Fórum
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