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A história mal contada do assassinato de Patrick, 11 anos

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O caso de Patrick, criança de 11 anos assassinada em uma favela no Rio de Janeiro, já foi esquecido pela grande mídia. A PM alegou ter encontrado com o menino uma pistola, drogas e um rádio transmissor. Será mesmo?

Criança de 11 anos morre em uma favela do Rio de Janeiro. Estarrecido por ver que o caso está sendo esquecido pela grande mídia, quero aqui descrever, com muito desconforto, o que está sendo o extermínio do povo da favela.

Quando há um caso como o do menino Patrick, vemos o futuro da favela ser exterminado junto com ele. A criança de apenas 11 anos, morreu a tiros na manhã de quinta-feira (15), na comunidade Camarista Méier, Zona Norte do Rio. A incursão da polícia na favela tirou a vida de um menino e alegou ter com ele uma pistola, uma mochila com drogas e um rádio transmissor.

Ainda para elucidar o caso, segundo o jornal O Dia, o pai da criança afirma que não havia qualquer pistola perto do corpo logo depois que o menino foi baleado. O caso foi registrado na 25ª DP (Engenho Novo), que descreveu o caso como morte decorrente de intervenção, ou seja, mais um auto de resistência.

O que me deixa estarrecido, como falava no inicio do texto, é a naturalização da violência. Uma CRIANÇA de 11 anos foi morta a tiros e a população não se incomoda com isso. Ao saber do ocorrido fiquei com uma dor horrível, me frustrei e me perguntei se a sociedade sentiu a dor que eu estava sentindo. Pelo jeito não.

Pouco importa para a sociedade se mais um negro foi morto na favela. Foi só mais um dos milhões que a política de segurança quer exterminar. Acho que na verdade foi menos um. Menos um que não vai para o asfalto para roubar o playboy. Menos um que não ira ser o assaltante que roubou o empresário, que sequestrará o seu filho. Foi só menos um que não vai tirar a vaga do seu filho branco na universidade.

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Quando uma criança negra da favela morre desta forma, vemos nitidamente as faces do racismo institucional. Historicamente a criminalização da pobreza esconde as tragédias que são cotidianas dos moradores das comunidades periféricas. Se Patrick estava ou não envolvido com o caso não cabe a mim julgar, mas caracterizar o ocorrido como pena de morte para um menino de 11 anos é, no mínimo, um problema de saúde mental e um grande complexo de divindade.

Perdemos mais uma criança para a violência, mais uma que pode vir a ser julgada de ‘menos uma’. Me pergunto: Patrick se continuasse vivo seria um perigo para a sociedade? O futuro de uma criança negra da favela é mesmo julgado pelos registros de violência na comunidade? Sinceramente, gostaria de falar que na favela os sonhos são cortados na sua raiz e poucos são os sobreviventes desta guerra. Patrick foi a vítima da vez. Quem será o próximo?

Walmyr Junior, Jornal do Brasil

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