Redação Pragmatismo
Preconceito social 15/Jan/2015 às 12:07 COMENTÁRIOS
Preconceito social

"Não pediria desculpas. A verdade dói", diz colunista de O Globo

Publicado em 15 Jan, 2015 às 12h07

Silva Pilz, blogueira de O Globo que debochou de pobres diz que não pediria desculpas: "Não ofendi ninguém. Fiz um texto divertidíssimo. A verdade dói"

Silva Pilz, a blogueira de O Globo que ganhou as manchetes por publicar um texto que debocha e expõe sua ojeriza as pobres [relembre aqui], afirmou que não pedirá desculpas pelo artigo. “Não ofendi ninguém e fiz um texto divertidíssimo”, revelou em entrevista à BBC Brasil.

No artigo que gerou polêmica e repulsa, Silvia descreve, em tom de deboche, o comportamento dos mais pobres em consultórios médicos. A blogueira afirma que essas pessoas costumam inventar doenças e fazem drama para faltar ao trabalho. “Acho que não conheço nenhuma empregada doméstica que esteja sempre com atacada da ciática [leia-se nervo ciático inflamado]. Ah! Eles também têm colesterol [leia-se colesterol alto] e alegam ‘estar com o sistema nervoso’ quando o médico se atreve a dizer que o problema pode ser emocional”, escreveu.

Ela afirma ainda que essas pessoas costumam inventar doenças e fazem drama para faltar ao trabalho. “Acho que não conheço nenhuma empregada doméstica que esteja sempre com atacada da ciática [leia-se nervo ciático inflamado]. Ah! Eles também têm colesterol [leia-se colesterol alto] e alegam ‘estar com o sistema nervoso’ quando o médico se atreve a dizer que o problema pode ser emocional”, escreveu.

A blogueira enfatiza que, com a democratização dos planos de saúde, fazer exames se tornou um programa divertido para os pobres, que se arrumam especialmente para a ocasião, chegam cedo e, admirados com o ar-condicionado e o piso de porcelanato dos laboratórios, aguardam ansiosamente pelo lanche oferecido após os exames. Ela finaliza dizendo que a principal preocupação do pobre é “procriar”.

Confira abaixo alguns trechos da entrevista de Silvia à BBC:

Como recebeu os comentários negativos?

Fiquei perplexa porque o texto é uma sátira. Esperava uma repercussão diferente. Há muitas pessoas que se divertem e outras que se revoltam. Meu blog fala sobre hipocrisia, eu digo ali o que eu penso. É o tipo de assunto que está todo mundo superacostumado a ver em novela da rede Globo. Fiquei um pouco chocada, as pessoas xingam, são brutas.

Fiz um texto tolo, corriqueiro, de humor, você escolhe a palavra que achar mais interessante, relatando o cotidiano da classe média. Meus textos são politicamente incorretos, sim, mas acho que muitas pessoas se divertiram muito.

E houve também quem não se divertisse.

Essas pessoas talvez se identifiquem, ou se sintam agredidas com o que está colocado ali. Nem todo mundo entende o humor sarcástico.

Dizer que “pobre gosta de procriar” não seria pejorativo ou ofensivo?

Não. Pobre gosta de procriar. Não é fato? O que dói no leitor é a verdade. Pobre gosta de procriar, você concorda comigo? Eles têm mais filhos do que deveriam ter.

Você convive com pobres em que situações da sua vida?

Eu convivo com pobre como qualquer pessoa da classe média.

Por exemplo?

Deixa eu pensar com que pobres eu convivo (pausa). Que pergunta mais estranha. Eu convivo com… Essa resposta é f*da porque ela pode me sujar, digamos assim, né? Eu convivo com pobres que são professores, bailarinos, músicos, empregadas domésticas, porteiros de prédio, motoristas de ônibus.

Você diz que as pessoas não entenderam a graça do seu texto. Qual é a graça dele?

Eu acho super engraçado. Acho que humor não se explica. A graça do texto são os detalhes.

Essa fascinação pelos exames acontece. As pessoas, porque têm plano de saúde, ficam contentes e ávidas por fazerem exames. É uma brincadeira que fiz com uma coisa complicada que é doença. Talvez tenha sido aí o ponto de explosão do texto. A graça é a mudança de comportamento da sociedade com relação às novidades. Como na aviação. Há anos, só as pessoas que tinham dinheiro podiam viajar. Agora temos passagens a preços acessíveis e isso gera situações cômicas.

Gostaria de deixar alguma mensagem aos leitores ou não leitores?

Não. Só acho que as pessoas deveriam de repente serem menos ofensivas, tomarem muito cuidado.

Você pretende tomar cuidado em ser menos ofensiva em seus próximos textos?

Não. Eu não sou ofensiva. Eles veem como ofensivo. Eu sou divertida nos meus textos. Eu nunca fui ameaçada, foi a primeira vez. Fui ameaçada de morte nos comentários.

VEJA TAMBÉM: Morador da rocinha rebate texto ‘anti-pobres’ de Silvia Pilz

com informações de BBC

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