Saiba quais são os posicionamentos do Syriza, Coalizão da Esquerda Radical que venceu as eleições na Grécia, sobre questões LGBT, aborto e imigração
Marcelo Hailer, Fórum
Com muita ansiedade, mas já com certa definição, aguardava-se o resultado das eleições na Grécia, que aconteceram neste domingo (25) e confirmaram o favoritismo do candidato do Syriza (Coalizão da Esquerda Radical, em português), Alexis Tsipras. A Coalizão obteve 36% dos votos e elegeu 149 deputados, o que não configurou maioria absoluta. Por conta disso, um acordo já foi selado com o partido Gregos Independentes, o que garantiu a maioria ao Syriza no Parlamento grego.
Obviamente, a pauta central em torno da eleição de Alexis Tsipras como primeiro-ministro da Grécia gira em torno da recuperação econômica de seu país, a renegociação dos acordos firmados pelo governo anterior com a Troika (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional), responsável pela imposição de políticas de ajustes fiscais na Grécia, Irlanda, Portugal e Espanha. Aliás, esta foi a principal bandeira e mensagem do Syriza durante as eleições: o fim da subserviência aos agentes fiscais da Europa.
O sucesso ou fracasso do Syriza só poderá ser constatado nos próximos meses e anos. O que se pode antecipar é que as negociações serão duras e que a primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel (SDP), não vai facilitar a vida do primeiro-ministro grego Alexis Tsipras. Mas, a vitória da Coalizão da Esquerda Radical pode significar não apenas um novo paradigma europeu no que diz respeito às questões econômicas, mas também no que diz respeito às questões de gênero, sexualidade e imigração.
LGBT
O Syriza se autodeclara como o “único partido da Grécia que defende a igualdade de gênero e o casamento igualitário”. Em entrevista ao portal italiano Il Grande Colibril, o representante do Syriza em Nea Smyrni, periferia do sul de Atenas, Panagiotis Pantos, reafirmou o pioneirismo da Coalizão frente às questões LGBT.
“Syriza tem sido sempre um apoiante ativo dos esforços da comunidade LGBT por direitos iguais. É o único partido parlamentar que apoia o direito ao casamento do mesmo sexo, com direitos iguais para os matrimônios não heterossexuais (enquanto todas as outras partes nem sequer apoiam o direito à união civil). Na verdade, o Syriza (através de seus jornais filiados e estação de rádio) desempenhou um papel fundamental na organização dos primeiros ativistas em prol do casamento igualitário na Grécia, em 2008. Durante os últimos anos, o Syriza também começou a trabalhar mais estreitamente com os transgêneros gregos, apoiando as suas conferências e trazendo suas demandas no Parlamento”, disse Pantos.
O membro do Syriza ainda tratou da questão da homofobia e sexismo na Grécia. “A homofobia e o sexismo estão bem enraizados na nossa sociedade, mesmo entre as pessoas progressistas. No entanto, as coisas estão começando a mudar e estamos determinados a ajudar para que as questões de direitos iguais não se percam no âmbito da atual agenda econômica e da crise”, analisou.
Imigração
A questão de imigração é um assunto delicado em toda a Europa, principalmente nos últimos anos, já que, com a crise econômica, partidos e grupos da extrema direita neonazista ganharam força, inclusive eleitoral. Vale lembrar que a mesma Grécia que acabou de eleger o Syriza já elegeu 18 deputados do partido Aurora Dourado. Vale lembrar também que o líder do Aurora, Nikolaos Michaloliakos, e outros dirigentes do partido foram presos em 2013 acusados do assassinato do rapper e ativista Pavlos Fyssas e também por manter relações com organizações neonazistas.
O representante do Syriza, Panagiotis Pantos, declarou que o partido possui uma “posição firme contra a demonização dos imigrantes e das medidas antidemocráticas, como campos de concentração e paredes de fronteira”. “Nós acreditamos que a questão da imigração deve ser tratada tanto a nível nacional como a nível europeu. A Grécia deve aumentar a velocidade de processar solicitações de asilo e da objetividade do processo (agora ela tem as taxas mais baixas na UE), implementar um novo quadro para dar autorizações legais para imigrantes (cortando, desta forma, a oportunidade de redes criminosas para explorá-los, e garantindo também a igualdade de remuneração e de segurança social para todos os que trabalham na Grécia), tomar medidas para melhorar os chamados “guetos” em benefício de todos os que vivem lá, os gregos e os imigrantes”, afirmou o membro da Coalizão da Esquerda Radical, Panagiotis Pantos.
Aborto
Em relação ao aborto, o mais concreto que encontramos de posição do Syriza é a sua participação da Frente Pela Igualdade de Gênero no Parlamento Europeu, em que a Coalizão conta com 6 eurodeputados.
Em página oficial, o Syriza divulgou documento em que defende algumas questões relativas ao aborto: 10 dias de licença paga, além do reconhecimento ao direito ao aborto e a contracepção em todo o território europeu, que fez parte de um documento divulgado no ano passado cujo título era “Todos na mobilização pelo direito ao aborto!”. Além do Syriza, a iniciativa conta com o apoio dos eurodeputados do Gue (Noruega), Podemos (Espanha) e do partido Verde sueco.
O documento apoiado pelo Syriza afirma: “Temos de proteger o direito ao aborto na Europa e mais além. As mulheres devem ter direitos sobre seus próprios corpos e devem ser livres para escolher quando se trata de aborto. Precisamos de um amplo acesso à saúde e direitos sexuais e reprodutivos”.
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A vitória do Syriza, a partir de tais posições acima tratadas, pode significar não apenas uma transformação (para melhor) quanto à União Europeia, mas também em questões domésticas que ainda hoje são alvos de grupos da extrema direita da Grécia.
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