Boa parte dos brasileiros reza o terço mariano diariamente, vai à missa ao menos aos domingos, vez por outra dá esmola, é temente a Deus. E defende menos direitos para os empregados, domésticos inclusive. E a pena de morte, para os marginais pretos e pobres de seu país. E para o traficante brasileiro preso na Indonésia.
André Falcão*
O Brasil se orgulha por ser um dos muitos países que abominam a pena de morte. A propaganda midiática o divulga como um país simpático, acolhedor, generoso, de maioria católica, desprovido de preconceito e racismo, de cor ou social. Somente aboliu a escravidão, oficialmente, em 1888, com o advento da Lei Áurea, portanto há 127 anos. Embora, sempre oficialmente, tenha sido descoberto por Cabral há 515 anos. Mas como a escravidão no Brasil somente teve início, oficialmente, na primeira metade do séc. XVI, portanto por volta dos anos 1500-1550, justamente com o advento da produção de açúcar (que coincidência, Alagoas), pode-se dizer que a escravidão no país durou, oficialmente, cerca de 370-380 anos. Ano pra dedéu, hein? É que se fosse pela direita brasileira, representada pelo poder econômico de então, baluarte na luta em favor da mantença da barbárie escrava para a salvação de seu rico dinheirinho, sujo com a dor, suor e sangue dos negros, a abolição foi um terrível mal para o país.
A escravidão no Brasil, porém, ainda não acabou. Sabe-se de vários casos que deixaram estarrecidos os brasileiros. É que para boa parte desses, tão amáveis e tementes a Deus, a escravidão é inadmissível. A pena de morte também. Naturalmente que em se tratando de um cabra preto, lascado, nascido e criado num dos muitos infernos que ainda existem no país, e que reproduz sua origem desgraçada assaltando, quando não assassinando, integrantes da sociedade branca e limpa do Brasil, uma mortezinha bem matada é merecida. Nem que seja na baixa. Vai lá e pum! Menos uma escória.
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Escravidão e pena de morte por alguma razão andam juntas no Brasil. Deve ser porque não existem oficialmente, mas resistem ao fim vagando na clandestinidade. De qualquer modo, para um sujeito que ganhou a vida traficando drogas, não raro abastecendo as festas de milionários conterrâneos e estrangeiros que o financia e aos magnatas seus chefões, e que é preso num país onde impera a prostituição e a corrupção, entre outras mazelas, uma pena de morte é até bem-vinda, como não o é a manifestação contrária da presidenta de um dos países, como o Brasil, que lideram a extirpação no mundo, justamente, da pena de morte.
Boa parte dos brasileiros reza o terço mariano diariamente, vai à missa ao menos aos domingos, vez por outra dá esmola, é temente a Deus. E defende menos direitos para os empregados, domésticos inclusive. E a pena de morte, para os marginais pretos e pobres de seu país. E para o traficante brasileiro preso na Indonésia.
*André Falcão é advogado e autor do Blog do André Falcão. Escreve semanalmente para Pragmatismo Político
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