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Coxinha de classe média

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Descobri que a classe média é repleta de coxinhas. Então resolvi ajudar a todos quantos que, como eu, também não sabiam o que era um coxinha, nem porque eram chamados de coxinha.

André Falcão*

Hoje resolvi falar um pouco sobre um termo que vem sendo muito usado por esses petralhas duma figa, e que me deixam muito incomodado. O coxinha. De início demorei uma barbaridade para entender, afinal como todo coxinha, eu também tenho as ideias curtas. Algumas vezes tive vontade de perguntar a algum deles o que era afinal um coxinha, por mais que de algum modo sempre intuí que eu devia ser um. Mas tive vergonha, porque aí é que eles iriam dizer que eu era um coxinha, mesmo. Então deixei quieto e fiquei tentando pescar, aqui e ali, alguma pista. Sei lá…

Até que um belo dia me deparei no https://www.youtube.com/watch?v=_Y06KFJUlX0” target=”_blank”>Youtube com uma bela composição chamada “Classe média”, que seria de autoria de Max Gonzaga e Banda Marginal. A composição é muito inteligente (até um coxinha como eu consegue perceber) e bem humorada. Finalmente pude perceber o que é um coxinha. Ainda que não seja só aquilo, afinal, sabendo agora o que é um, posso constatar que há coxinhas em classe média alta, classe alta, e até na classe mais baixa. Mas descobri que a classe média é repleta de coxinhas. Então resolvi ajudar a todos quantos que, como eu, também não sabiam o que era um coxinha, nem porque eram chamados de coxinha. Segue a letra (vale ir lá e ouvir):

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Sou classe média, papagaio de todo telejornal; eu acredito na imparcialidade da revista semanal. Sou classe média, compro roupa e gasolina no cartão, odeio ‘coletivos’ e vou de carro que comprei à prestação. Só pago impostos, estou sempre no limite do meu cheque especial. Eu viajo pouco, no máximo um pacote CVC tri-anual. Mas eu ‘tô nem aí’, se o traficante é quem manda na favela; eu não ‘tô nem aqui’, se morre gente ou tem enchente em Itaquera. Eu quero é que se exploda a periferia toda, mas fico indignado com o Estado quando sou incomodado pelo pedinte esfomeado que me estende a mão. O para-brisa ensaboado, é camelô, biju com bala, e as peripécias do artista malabarista do farol. Mas se o assalto é em “Moema’, o assassinato é nos ‘Jardins’, e a filha do executivo é estuprada até o fim, aí a mídia manifesta a sua opinião regressa, de implantar pena de morte ou reduzir a idade penal. E eu que sou bem informado, concordo e faço passeata, enquanto aumenta a audiência e a tiragem do jornal. Porque eu não ‘tô nem aí’, se o traficante é quem manda na favela; eu não ‘tô nem aqui’, se morre gente ou tem enchente em Itaquera. Eu quero é que se exploda a periferia toda; toda tragédia só me importa quanto bate em minha porta. Porque é mais fácil condenar quem já cumpre pena de vida…”.

*André Falcão é advogado e autor do Blog do André Falcão. Escreve semanalmente para Pragmatismo Político

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