Nem dinheiro de empresas nem dinheiro do Estado: agora é a hora de planejar campanhas eleitorais bancadas com dinheiro apenas de pessoas físicas – e com um máximo razoável por pessoa – para acabar com o desânimo nas forças políticas progressistas no Brasil
Nicolas Chernavsky*
Com o resultado das eleições para a presidência da Câmara dos Deputados, está bastante claro que a trajetória histórica de crescimento do progressismo no parlamento brasileiro chegou a um estancamento. Na verdade, parece até ter havido um retrocesso rumo ao e nessas últimas eleições de 2014. Não é o que ocorreu nas últimas décadas, quando os partidos mais progressistas foram ganhando espaço no parlamento nacional. É preciso enxergar que esse ciclo acabou, simplesmente. O PT e o PCdoB começaram claramente a diminuir no parlamento, e o PSOL, com 5 deputados federais na sua terceira eleição, não consegue fazer quase nenhuma diferença quantitativa. E como se fosse pouco, o PSB, que historicamente era um partido progressista, agora parece ter se tornado um partido conservador. Por que isso está acontecendo? O que fazer para reverter isso?
A avaliação de que o financiamento das campanhas eleitorais está no fundo desse processo é bastante comum hoje em dia, sendo que, por exemplo, o PT tem uma campanha bastante nítida pelo financiamento estatal de campanhas. Apesar disso, para o povo, essa proposta não “pega”, ou seja, o eleitorado não parece se empolgar muito com trocar o dinheiro das empresas pelo dinheiro do Estado para fazer campanha. Mas existe uma alternativa, o financiamento coletivo, e sem esperar que uma lei nos obrigue a fazer isso. Temos que implementar o financiamento coletivo nas campanhas por nossa livre organização. E o que significa isso? Significa que as candidatas e os candidatos podem tomar a iniciativa de somente aceitar recursos de pessoas físicas, e até um certo limite razoável por pessoa.
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Muitas pessoas alegam que é muito arriscado para as forças mais progressistas parar de aceitar dinheiro de empresas para suas campanhas sem que a lei proíba as forças mais conservadoras de aceitar também. A prática mostra o contrário: é a aceitação de dinheiro de empresas que está afundando eleitoralmente as forças mais progressistas. Pode-se argumentar também que nas últimas décadas foi esse dinheiro de contribuições de empresas que permitiu ao progressismo vencer tantas eleições. Mesmo que isso seja verdade, esse vício no dinheiro de empresas está agora cobrando seu preço. Existe uma forma mais avançada de financiar campanhas, e sua implementação é urgente. Nem dinheiro de empresas, nem dinheiro do Estado; dinheiro da organização do povo.
O PT, o PSOL, o PCdoB, os setores mais progressistas do PSB e de todos os outros partidos têm a oportunidade de planejar com antecedência, a partir de agora (se é que não começaram já), campanhas com contribuições somente de pessoas físicas com um limite razoável por pessoa. Isso poderia devolver ao progressismo a trajetória de crescimento no parlamento. A esperança precisa ser resgatada na política brasileira, e para superar o desânimo precisamos de uma luz no fim do túnel. Espero que essa luz sejam as campanhas eleitorais financiadas voluntariamente pelo povo.
*Nicolas Chernavsky é jornalista formado pela Universidade de São Paulo (USP), editor do Cultura Política e colaborador do Pragmatismo Político
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