Em 2005, a tática conservadora foi acusar sem provas José Dirceu e deixar o preconceito contra o PT fazer o resto; agora, em 2015, a tática é parecida, mas o jornalismo brasileiro – com a força da Internet – está diferente, e o progressismo está mais consciente de que o ataque ao PT é uma estratégia central do conservadorismo
Nicolas Chernavsky*
Recentemente, em meio às acusações sobre corrupção na Petrobras, surgiu uma acusação contra José Dirceu. A princípio, essa acusação poderia prejudicar o PT, ao ligar as atuais denúncias ao caso conhecido por muitos como “mensalão”. Mas será que prejudica mesmo? Ou é ao contrário? Se essas novas denúncias sobre José Dirceu não forem comprovadas, as pessoas não vão se perguntar se de fato foram comprovadas as denúncias no “mensalão”?
E por que essa questão é importante para o PT? Porque é no tal “mensalão” que se concentra parte considerável do preconceito contra o PT – o antipetismo. Nessas últimas eleições presidenciais, inúmeras conversas entre quem apoiava Dilma e quem apoiava Aécio se desenrolavam com a argumentação, por parte de quem apoiava Dilma, da redução drástica da fome, da miséria e da pobreza, com Minha Casa Minha Vida, ProUni, Bolsa-Família, aumento no salário mínimo, etc. Muitas vezes, após todos esses argumentos, quem apoiava Aécio citava palavras como “mensalão”, “José Dirceu” e “Genoino” e considerava que estes “argumentos” sobrepujavam qualquer melhora da qualidade de vida do povo que tivesse ocorrido durante os governo de Lula e Dilma.
Até a crise política de 2005, que originou o termo “mensalão”, o PT vinha crescendo numericamente de forma consistente no parlamento nacional, eleição após eleição, tanto na Câmara de Deputados quanto no Senado. Quanto aos deputados federais, por exemplo, tinham sido eleitos 49 em 1994, 58 em 1998 e 91 em 2002. Após a crise política de 2005, o desempenho do PT nas eleições para o parlamento nunca mais alcançou o de 2002 (83 eleitos em 2006 e 88 em 2010), sendo que nessas eleições de 2014 o partido elegeu seu menor número de deputados federais desde as eleições de 1998, com 70 deputados. Nisso, teve influência também um outro fato bastante fomentado pelo “mensalão”, que foi a saída de vários parlamentares do PT rumo ao PSOL e outros partidos. Ou seja, o “mensalão” vem tendo considerável influência na atividade política do PT nos últimos anos.
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E quanto à figura de José Dirceu? Por que seu nome especificamente está “na ponta da língua” de quem quer acusar o PT de qualquer coisa? E por que justo ele agora retorna como acusado nas denúncias sobre a Petrobras? É notório que ele atrai mais antipatia dos setores antipetistas que Genoino ou João Paulo Cunha, por exemplo, também citados no “mensalão”. Ou seja, além do fato de Dirceu ter sido 8 anos presidente do PT e de ser provavelmente o principal acusado do “mensalão”, parece haver outro fator que atrai para ele esse sentimento. Creio que aí se incluem alguns fatores da personalidade de Dirceu, sua forma de se relacionar com os meios de comunicação mais conservadores e sua relação com o público em geral. Mas isso não quer dizer que alguém acusado sem provas seja considerado automaticamente culpado. Isso seria preconceito não somente com José Dirceu, nem somente com o PT; simboliza o preconceito que acompanha a visão do conservadorismo sobre o progressismo na história do Brasil, passando pelo abolicionismo, a revolução de 1930, o suicídio de Vargas, o golpe de 1964, as eleições de 1989, a farsa do “mensalão” e mais outros episódios que virão, na trajetória do Brasil rumo ao futuro.
*Nicolas Chernavsky é jornalista formado pela Universidade de São Paulo (USP), editor do Cultura Política e colaborador do Pragmatismo Político
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