Autor de iniciativas como o “Dia do Orgulho Hétero” e a “lei da heterofobia”, a obsessão de Eduardo Cunha pelos gays é algo que vai muito além do razoável
Kiko Nogueira, DCM
A obsessão de Eduardo Cunha pelos gays é algo que vai muito além do razoável, até para os padrões de sua turma. Em janeiro, Cunha criticou o que o “movimento gay” faz do Judiciário. As entidades estão, segundo ele, conquistando na Justiça o que não conseguem mudar no Congresso.
“O que nos preocupa e isso é um problema sério que nós temos de ficar atentos é a crescente judicialização favorável ao movimento gay”, disse.
Para ele, a imprensa é uma das grandes aliadas da causa. “Setores da mídia agem no sentido de criar um clima como se isso tudo fosse normal, inevitável e como se eles fossem maioria, coisa que absolutamente não o são”, afirma.
Há “demandas insufladas pela TV”, declara, referindo-se provavelmente às novelas. “Na medida em que os militantes gays não queiram substituir a família tradicional, nada contra eles e contra o seu comportamento. O que não podemos permitir é que isso vire uma família”, diz.
No Twitter, Eduardo Cunha já se manifestou diversas vezes para detonar o “gayzismo”. “Estamos vivendo a fase dos ataques, tais como a pressão gay, a dos maconheiros, abortistas. O povo evangélico tem de se posicionar”, reclamou. “Boa noite a todos. Muitos ativistas gays agredindo muito no tt. Isto é heterofobia”, escreveu.
Cunha é autor de iniciativas como o “Dia do Orgulho Hétero” e a “lei da heterofobia” (PL 7.382/10), para proteger, em tese, sujeitos decentes como ele. É evidente que esse não é o único e nem o maior problema de Eduardo Cunha, amigo do falecido PC Farias e envolvido em denúncias de roubo desde o início da vida pública, mas chama a atenção a dedicação ao tema e seu visível incômodo.
Numa entrevista ao Valor, ele reagiu indignado às comparações com Frank Underwood, o antiheroi do sensacional seriado “House of Cards”. “Eu acho isso um absurdo. Eu vi essa série. Existem três diferenças clássicas, ali: o cara é um assassino, o cara é um corrupto e o cara ainda é um homossexual. Não dá para eu aceitar essa comparação. É ofensiva”.
Parte dessa histeria é para atender seu público. A distopia sexual propagada por gente como Cunha, que prega que viveremos num país de cabeça para baixo se não tomarmos uma atitude, lhe rende votos. A outra parte é patológica.
Nos EUA, onde a direita religiosa nutre a mesma fixação, a escritora e líder evangélica Rachel Held Evans causou barulho ao criticar essa monomania. “Minha pergunta para os evangélicos é esta: vale a pena? É uma ‘vitória’ contra o casamento gay perder mais jovens para o cinismo em relação à igreja? É uma ‘vitória’ perpetuar a idéia de que os cristãos estão em guerra com as pessoas LGBT? Eu, por exemplo, estou cansada de tentar defender os evangélicos quando seus líderes se comportam de maneira indefensável.”
“Um grande homem disse uma vez que tudo era sobre sexo. Exceto sexo. Sexo é poder”, disse Frank Underwood — que, de resto, é bissexual. Mais uma diferença de Eduardo Cunha, veja só.
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