Caso as medidas se concretizem e São Paulo venha a ficar até cinco dias da semana sem abastecimento de água potável, esse poderá ser o atestado de falência do estado que um dia almejou ser um país independente do Brasil
Tiago Minervino*, Pragmatismo Político
Por décadas, São Paulo foi a capital brasileira a concentrar o maior número de migrantes que saiam da zona rural para a urbana em busca de melhores qualidades de vida. Hoje, o que se especula é bem ao contrário.
O estado enfrenta a maior seca de sua história. Os reservatórios que abastecem a capital e as demais regiões baixam a cada dia mais, impulsionados pela falta de chuvas, ausência de matas ciliares ao redor dessas reservas e, principalmente, por falta de planejamento do governo do estado.
As especulações sobre a possível seca que atingiria o “coração financeiro” do Brasil e da América Latina não vêm de hoje, muitos menos do ano passado. Há anos especialistas no assunto já alertavam a respeito dessa iminente catástrofe.
Mas nada foi feito. Se de um lado a população consumia de forma desenfreada, do outro, o governador continuava afirmando em declarações à imprensa que estava tudo sob controle.
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Em entrevista concedida à Folha de S. Paulo, Newsha Ajami, pesquisadora da Universidade Stanford, na Califórnia, culpa o governo do estado por ”descaso e ineficiência”.
“Tem um rio passando na cidade e vocês estão sem água?” Declara, espantada, Newsha. “Nós (na Califórnia), realmente não temos água, não está chovendo e os nossos rios estão secos.” A pesquisadora faz referência ao rio Tietê que cruza a região metropolitana de São Paulo.
São 1136 km de água desperdiçadas. O projeto de despoluição do Tietê tem mais de 22 anos, desde seu início na Conferência Eco-92; foram mais de R$ 3,6 bilhões investidos dos cofres públicos e o Tietê continua sendo um dos rios mais poluídos do Brasil.
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Intimidada pela população a se manifestar publicamente, a Sabesp – empresa responsável pelo saneamento e abastecimento de água em São Paulo – informou que se a situação não melhorar, as medidas a serem tomadas serão mais drásticas que as já adotadas anteriormente.
Há um ano os moradores da capital sofrem com o racionamento diário da água entre os períodos do final do dia e à noite. Para o diretor da Sabesp, Paulo Massato, o jeito será apertar ainda mais as coisas como tentativa de reverter a atual situação hídrica de São Paulo, que beira o caos. Segundo Massato, a distribuição do líquido mais precioso para a sobrevivência humana poderá vir a ser realizada da seguinte maneira: dois dias com água; cinco dias sem.
Caso se concretize e a ‘terra da garoa’ venha a ficar até cinco dias da semana sem abastecimento de água potável, esse poderá ser o atestado de falência do estado que um dia almejou ser um país independente do Brasil. Sem água
suficiente para a produção, algumas empresas começam a direcionar seus investimentos para outras regiões do país.
Sem indústrias e sem água necessária para a manutenção dos seus habitantes, à cidade ficará à míngua. Na busca pela sobrevivência, a população começará a procurar uma nova alternativa de moradia, em outro estado ou país, dando-se início ao êxodo urbano. O maior da história do Brasil e aquele proposto por Paulo Massato Yoshimoto, no ano passado.
*Tiago Minervino é graduando em Comunicação Social – Jornalismo pela Universidade Anhembi Morumbi e colaborou para Pragmatismo Político.
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