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Ser contra ou a favor do aborto?

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O comentário cruel de Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados, suscitou reflexões a respeito do aborto: ser a favor da legalização não significa ser a favor da prática

Após o comentário do digníssimo presidente da Câmara dos Deputados sobre sua posição em relação ao aborto, estávamos comentando em uma roda o tema mais uma vez. Como defensora que sou da legalização do aborto fui questionada por uma colega sobre “como eu poderia ser a favor de matar uma criança quando eu estava lutando tanto para conseguir a minha desejada gravidez“.

Para mim, as razões para ser a favor da legalização do aborto são óbvias e confesso que tive até uma certa dificuldade de entender o que o cu tinha a ver com as calças, mas aí me dei conta de que o que faz com que tanta gente fale tanta bobagem a respeito do tema é justamente o não saber separar conceitos que vejo como básicos.

O ponto de partida mais básico aqui é: ser a favor da legalização (ou da descriminalização para quem não quer chegar a tanto) NÃO SIGNIFICA ser a favor DO ABORTO! Significa não achar que mulheres que passam por uma gravidez indesejada tenham o direito de terminar essa gravidez de forma segura e sem colocar suas vidas em risco.

É insano achar que o aborto vai virar anticoncepcional. Quando alguém me diz: “se o aborto for legalizado ninguém mais vai usar camisinha pois vai poder abortar” não pode ser mulher! Não é possível que alguém ache que abortar é igual tirar um cravo ou depilar a virilha!

É estatístico, é matemático: assim como a guerra contra as drogas não impede o uso delas, a criminalização do aborto pune apenas e exclusivamente mulheres já em situação de risco e que, por sua condição já fragilizada em uma sociedade discriminatória em que lhes são negados os direitos mais básicos, sofrerá a consequência de mais essa pauta política desconfortável. Mulheres ricas e de classe média também abortam! Elas só não morrem ou ficam inférteis por isso (ao menos não na maioria das vezes)! Ainda assim, elas sofrem em silêncio, muitas vezes sem apoio psicológico e passam a vida se sentindo criminosas pois não podem desabafar com praticamente ninguém. De fato isso não é um privilégio de classes.

Ahhh mas e a vida da criança?” dirão alguns… não vou nem entrar no mérito do conceito jurídico do que é “vida“, mas a conta é simples: 200 mil brasileiras morrem por ano em abortos clandestinos (junto com seus respectivos fetos), não seria justo nos preocuparmos com essas vidas também? E qual então a lógica do aborto legal (caso de risco de morte para a mãe e de estupro)? Não são “vidas” esses também? Se posso preterir a vida do feto caso ele cause risco de morte à mãe, não seria argumento suficiente para descriminalizar todos os abortos já que de fato é de um risco de morte que estamos falando?

Sou a favor de melhorar as alternativas (incluindo adoção) para que a mulher mantenha a gravidez, ainda que indesejada, mas qual a lógica de defendermos tantas “vidas” que sequer podem viver fora do útero em detrimento de tantas mulheres?

Sinceramente, o único argumento que me “convence” contra o aborto é o religioso pois contra dogmas não há argumentos, porém todavia entretanto, estamos em um estado laico and I could not care less para qual o conceito de vida da Biblia, do Alcorão e de quem quer que seja!

Esse papinho de que as pessoas têm que arcar com as consequências de seus atos (tomando pílula e usando anticoncepcional) e que o aborto não é um problema de saúde pública pois a pessoa que “procurou” além de ser totalmente desconectado da realidade é de um sexismo sem tamanho. Duas pessoas fizeram sexo! Duas pessoas deveriam ter se prevenido! As duas “engravidaram” mas somente uma pode abortar: O HOMEM!

O tom desse post é de irritação, é de revolta, é de choro de raiva ao pensar em como somos escravas desse sistema que nos nega o direito básico à nossa reprodução e aos nossos corpos enquanto endossa a irresponsabilidade masculina livre de maiores consequências.

Sim, eu quero muito um filho, mas porque eu tenho condições psicológicas, emocionais e financeiras.

Mas mais do que tudo, o que eu mais gostaria, é que meu filho e principalmente minha filha viessem para um mundo onde a mulher não fosse detentora de menos direitos. Onde a mulher fosse dona de seu corpo, de seu útero e de sua vida e onde as pessoas não fossem covardes de olharem apenas para o próprio umbigo como está fazendo o senhor Eduardo Cunha!

Self Desenvolvimento Humano

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