1 ano após sumiço de avião da Malaysia Airlines, incertezas nutrem indústria de entretenimento. Especulações são fontes de inspiração para documentários, filmes e livros que lucram com os 365 dias de tragédia inexplicada que marca o voo MH 370
Patrícia Dichtchekenian, Opera Mundi
Exatamente um ano atrás, o voo MH 370 desapareceu dos radares 40 minutos depois de partir de Kuala Lumpur com destino a Pequim com 239 pessoas a bordo, das quais mais de 150 eram chineses. As buscas envolveram 26 países, inúmeros navios, aviões, submarinos e outros sofisticados equipamentos que ainda não foram capazes de dar o menor sinal de destroços ou de corpos. Além disso, a tragédia resultou em gastos bilionários e em crises diplomáticas entre nações, já que havia passageiros de pelo menos 15 nacionalidades diferentes.
Na falta de provas concretas, o clima de incertezas alimenta também a indústria de entretenimento. Em agosto passado, o jornalista britânico Nigel Cawthorne lançou um livro chamado “Voo MH 370: o mistério”. Nele, o escritor diz que a própria falha na tentativa de encontrar os restos da aeronave é “por si só suspeita” e afirma que, mesmo que a caixa-preta seja eventualmente encontrada, ela pode não ser a original.
Na mesma linha, está previsto para ser lançado em meados de agosto deste ano o filme “The Vanishing Act”, inspirado no sumiço do Boeing 777. Dirigida pelo indiano Rupesh Paul, a produção foi duramente censurada quando expôs seu trailer durante o festival de Cannes, em maio de 2014.
Para os críticos, houve uma verdadeira exploração de um caso que não apresenta sinais de uma resolução, trazendo ainda mais sofrimento para os familiares das vítimas com a espetacularização.
Veículos internacionais também se aproveitaram dos elementos misteriosos da tragédia e lançaram produções sobre o desaparecimento do avião malaio.
A BBC, por exemplo, lançou um documentário de 60 minutos sobre a tragédia, em julho de 2014. Intitulado “Onde está o voo MH 370?”, o trabalho questiona os limites dos avanços tecnológicos em meio a um desastre até hoje mal explicado e sem sentido.
Além disso, uma série de teorias conspiratórias emergiu nos últimos 365 dias para explicar os eventos que se sucederam no dia 8 de março de 2014. As sugestões vão desde uma tentativa de ataque ou sequestro terrorista até a queda ocasionada por falta de combustível ou de oxigênio. Contudo, os mais criativos apelam ainda para a possibilidade de que o avião teria sido abduzido por alienígenas ou atingido por engano em operações norte-americanas na Tailândia.
Diversas hipóteses sobre o que teria acontecido com a aeronave naquela madrugada já foram levantadas e descartadas pelas autoridades internacionais. Até agora, o que se tem conhecimento é que, intencionalmente, a rota foi alterada e o transponder do avião, responsável por mandar sinais de posicionamento para o controle de tráfego, foi desligado. Mas isso já era sabido desde as primeiras semanas do desaparecimento do Boeing 777.
Parece óbvio, mas o motivo mais provável para que as autoridades não terem ainda encontrado a aeronave ainda é porque elas possivelmente ainda não tenham procurado na área onde o avião caiu. Em síntese, as principais estimativas das autoridades indicavam possibilidades que compreendem desde o mar da China Meridional, no sul do território chinês, passando pela Baía de Bengala, próxima à Índia, até a porção oeste da Austrália no Oceano Índico.
Essas hipóteses se tornaram ainda mais graves quando satélites detectaram objetos flutuantes nas áreas onde foram feitas as buscas no ano passado. As pistas, posteriormente comprovadas falsas, foram sinais visíveis de um problema muito maior. Isto é, as buscas pelos destroços da aeronave também levantam outro tipo de discussão, constantemente deixada de lado: a poluição nos oceanos.
Para Justin Green, advogado que representa 24 parentes das vítimas, apesar de problemáticas, as buscas devem continuar não apenas em prol da dignidade das famílias, mas também para melhorar os padrões de segurança da aviação internacional no futuro. Aos seus olhos, foi fundamental a dedicação de especialistas para investigar outros casos.
Exemplo disso foi o voo 447 da Air France, que caiu durante o trajeto Rio de Janeiro-Paris em 2009 e só teve a caixa-preta encontrada depois de dois anos. “Nenhuma das subsequentes melhoras para a segurança aérea teria acontecido se os países envolvidos na busca simplesmente tivessem desistido”, afirmou Green, em entrevista à revista Time.
Em meio a tantas dúvidas e especulações sobre o passado e o futuro do voo MH 370, a única conclusão que se pode ter após um ano de desaparecimento é: a tragédia alheia ainda é uma fonte inestimável de curiosidade e fascinação humana. E a indústria de entretenimento sabe muito bem como tirar vantagem disso.
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