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A direita na lava-jato

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A direita na Operação lava-jato (Imagem: Pragmatismo Político)

Delmar Bertuol*, Pragmatismo Político

Sou de esquerda. Não acho, como a maioria dos direitistas, que esquerda e direita não existem mais. Pelo contrário, acho que desde a Revolução Industrial as ideologias não estavam tão latentes. Ouço que, agora, no entanto, os tempos são outros, que o mercado de trabalho mudou.

Concordo. Os tempos são outros. De mais exploração dos trabalhadores. E nunca o mercado de trabalho se assemelhou tanto à lógica de um mercado. Os empregadores querem comprar o produto (mão-de-obra) pelo preço mais barato. Por isso reafirmo: esquerda e direita ainda existem sim. Quem diz que não é nem uma coisa nem outra, geralmente é de direita e não sabe a diferenciação ou tem receio de dizer-se de direita (na época da Ditadura Militar, o receio era ser de esquerda).

Digo isso para sustentar minha posição esquerdista (que existe, sim!).

Não sou contra, contudo, a existência dos partidos conservadores. Pelo contrário, acho que eles são salutares para a democracia (ainda que o PFL – recuso-me a chama-los de “democratas” – e o PP tenham sua origem no Arena).

Votei na Dilma. Por enquanto, não me arrependi. Não sou partidário e nem pretendo sê-lo. Mas se algum dia mudar de ideia, não será no PT que assinarei minha filiação. Votei na Dilma por crer que o PT é um partido de esquerda e por não concordar com a lógica neoliberal defendida pelo PSDB. Torço para que a Dilma tenha, no mínimo, um bom governo. Faria torcida igual para o Aécio, caso ele vencesse. Torço para que o Sartori, aqui no RS, tenha, no mínimo, um bom governo (mesmo eu não tendo votado nele). Em qualquer caso, seja qual fosse o eleito, julgo que nós, eleitores apartidários, devemos fazer uma responsável oposição a nossos políticos. Vigiá-los, fiscalizá-los, julgá-los, cobrá-los e todos os á-los possíveis.

Contudo, estamos assistindo a uma direita raivosa que não assimilou a derrota nas urnas. Quase metade dos votos na oposição legitima mais (subjetivamente, pois a oposição não precisa de uma quantidade mínima de votos para “eleger-se”) a oposição, sem dúvida. Mas de forma alguma deslegitima o governo eleito. Uma pequena diferença de votos não dá margem para um terceiro turno, um impeachment e nem muito menos uma intervenção militar. Eu não consegui, até agora, fazer aquilo que planejei, uma oposição responsável, pois os descabimentos são tantos, que estou gastando minhas energias para defender aquilo que deveria estar subentendido em cada um: a democracia. Nem mesmo o único partido brasileiro verdadeiramente de oposição política e não de interesses (o PSOL) está conseguindo fazer seu trabalho a contento. Seus poucos parlamentares estão saindo em defesa daquele a quem deveria estar responsavelmente oposicionando, o Governo Federal. E não porque estão ganhando algum Ministério para isso. O fazem para manter o Estado Democrático democrático, com a escusa do pleonasmo.

Pois muito bem. Agora saiu a lista dos suspeitos de envolvimento na Operação Lava-Jato. E o que temos é que a maioria dos suspeitos pertence ao PP, partido de direita, oriundo da Arena. E, mais ainda, integram a lista seis parlamentares pepistas gaúchos, sendo que o PP gaúcho se diz fora da base aliada do Governo Federal.

Quero que, se comprovada a culpa de alguns, que esses sejam punidos, no mínimo, com a perda do mandato. Mas repito, só depois da comprovação do envolvimento.

Esse meu sentimento não é, infelizmente, compactuado por todos. Uma parte da população (muitos, inclusive, votantes em parlamentares que integram essa famosa e malfada lista) quer, independente de culpa ou possibilidade jurídica, que o PT sejam tirado à força do poder.

Meus amigos direitistas, não sejam tão contraditórios.

*Delmar Bertuol é escritor, membro da Academia Montenegrina de Letras, graduando em história e colaborou para Pragmatismo Político

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