Nicolas Chernavsky
Colaborador(a)
Direita 09/Mar/2015 às 19:24 COMENTÁRIOS
Direita

Conservadorismo quer fim da reeleição por causa de Lula

Nicolas Chernavsky Nicolas Chernavsky
Publicado em 09 Mar, 2015 às 19h24

No meio da reforma política conservadora que paira no parlamento, o fim da reeleição significaria reduzir de 24 anos para 20 anos seguidos o horizonte mínimo provável de governos progressistas no Brasil iniciados em 2003, pois no caso de Lula ser eleito presidente em 2018, sem reeleição ele não poderia tentar um novo mandato em 2022

lula conservadorismo direita brasil

Nicolas Chernavsky*

Os movimentos políticos têm motivos visíveis e motivos ocultos. No caso da proposta de acabar com a reeleição no Brasil, os motivos visíveis podem ser vários, mas o grande motor da proposta é um motivo oculto quase impronunciável: impedir que Lula possa tentar a reeleição em 2022, no caso de ser eleito presidente do Brasil em 2018. Afinal, é disso que se trata a grande política: que maioria vai ser formada no comando do Estado? Uma maioria com a parte mais progressista do espectro político, ou com a parte mais conservadora do espectro político? Assim, as propostas, manobras, movimentos e alianças que vemos todos os dia na política brasileira acabam se referindo ao grande xadrez que vai determinar o grau de progresso com o qual o país vai avançar nos próximos anos e décadas.

Como se compõe esse xadrez? Quem somos nós nessa disputa? Quem são os dois conjuntos de peças que fazem parte dessa disputa? Somos ou de um conjunto ou de outro ou podemos ser dos dois? Como usar essa grande metáfora do milenar jogo de mesa para ajudar a entender as disputas políticas?

Em primeiro lugar, vamos substituir a dicotomia de “peças brancas e pretas”, que neste contexto podem adquirir uma conotação racista, pela de “peças progressistas e conservadoras”. Assim, este xadrez político têm estes dois conjuntos de peças. Isso não quer dizer que cada pessoa seja uma peça, que cada partido seja uma peça ou que cada entidade da sociedade seja uma peça; quer dizer apenas que as forças fundamentais que disputam a política são essas, o progressismo e o conservadorismo, e aqui vem o principal: um jogo de xadrez como este também é jogado dentro de cada pessoa, de cada partido e de cada entidade da sociedade. A resultante deste xadrez interno é o que vai determinar se a pessoa, partido ou entidade vai fazer parte das “peças progressistas” ou das “peças conservadoras” no xadrez geral. Se o jogo de xadrez interno muda, uma pessoa, partido ou entidade pode deixar de ser progressista e passar a ser conservador, e vice-versa.

Leia aqui todos os textos de Nicolas Chernavsky

Assim, quais são as principais peças do grande xadrez da política brasileira atual? A rainha – ou seja, a “peça conservadora” de maior importância depois do rei – é a farsa do “mensalão”, que permite a continuidade da cisão entre PT e PSOL e permite reforçar o tradicional argumento dirigido pelo conservadorismo a todas as forças progressistas do mundo: o argumento da moralidade. Liberdade e igualdade sexuais? “Imoralidade”. Liberdade e igualdade religiosas? “Imoralidade”. Liberdade e igualdade de liberdade de expressão? “Imoralidade”. Liberdade e igualdade econômicas? “Imoralidade”. Liberdade e igualdade de organização política? “Imoralidade”. Para defender essa “rainha conservadora” (o “mensalão”) há vários “bispos, cavalos e torres conservadoras”, como por exemplo a tentativa de estender por cinco anos os mandatos dos atuais ministros do STF, adiando a renovação desta corte e assim dificultando que na revisão criminal, condenações a petistas na AP 470 sejam revertidas.

E quem é o rei, a peça mais importante do conservadorismo no xadrez da política brasileira atual? É aquela entidade que embasa a opinião de corações e mentes: os meios de comunicação. Dentro desta peça, está sendo jogado um xadrez interno em que, por enquanto, estão vencendo as “peças conservadoras”. Mas nos últimos anos, novos ventos da Internet têm gerado uma mudança nesse jogo, e as “peças progressistas” estão ganhando cada vez mais terreno. O grande desafio do progressismo brasileiro é vencer o “rei conservador”, e neste xadrez, o da realidade, a forma de fazer isso é que dentro do “rei conservador”, o progressismo vença. Complexo? Bem-vindos ao xadrez da política. Ah, e quem ou o quê é o “rei progressista” no Brasil de hoje? Para saber a resposta, responda a essa pergunta: quem ou o quê o conservadorismo mais ataca hoje em dia no país?

*Nicolas Chernavsky é jornalista formado pela Universidade de São Paulo (USP), editor do CulturaPolítica.info e colaborador do Pragmatismo Político

Acompanhe Pragmatismo Político no Twitter e no Facebook.

Recomendações

COMENTÁRIOS