Delmar Bertuol*, Pragmatismo Político
Sabemos todos que não há embasamento legal para o impeachment da Presidenta Dilma. Os que defendem a derrubada dela também são cientes da impossibilidade jurídica, mas tentam relativizar as leis para defenderem uma ilegalidade em nome de uma ideologia que eles juram não ter.
Deixando essa informação dita (por mais redundante que seja repeti-la, é salutar fazê-lo, pois os golpistas insistem nos seus falaciosos argumentos), vamos nos reservar o direito de suposições. Do faz de conta, para ficar na linguagem em consonância com as ideias golpistas: pueris.
Mesmo no caso de um motivo legal para o impeachment, ele não é automático. Deve passar pelo Congresso. Pelas duas Casas. Óquei. Quem
recebe a denúncia é a Câmara de Deputados, na pessoa do seu Presidente. Ocorre que seu Presidente, eleito pelos pares, também está sendo investigado por corrupção. O Presidente da Câmara receberia a denúncia de cujo crime ele também pode estar envolvido.
Passada e aprovada a denúncia na Câmara, formar-se-ia uma CPI congressual para investigar a conduta da Presidenta. Porém, dezenas de legisladores do Congresso estão também sendo investigados não só por outras fraudes e maracutaias como, pasmem, pelo mesmo crime que a Presidenta estaria envolvida. Até mesmo parlamentares que fazem oposição ao Governo estão sendo investigados.
E, como se não bastasse, uma vez concluído pela culpa da Presidenta, cabe ao Senado decidir se cassa ou não o mandato da Dilma. E esta sessão será presidida pelo Presidente do Senado, Renan Calheiros, que já esteve envolvido em outros casos de corrupção e também é, pasmem, suspeito de participar do achaque à Petrobras, casualmente, repito, o mesmo crime pela qual a Dilma pagaria seu envolvimento com o mandato. Não haveria, portanto, sustentação política nem moral para o impeachment.
O Brasil não precisa de mais um golpe contra sua democracia.
Precisamos fortalecê-la cada vez mais, e isso só se faz com o fortalecimento das instituições e também e no mesmo nível de importância, com uma reforma política com ampla participação popular. Precisamos de um plebiscito, urgentemente, para decidirmos as regras e normas que nossos eleitos e candidatos seguirão.
Se a população é, como sustentam os defensores de um referendo, leiga para certos assuntos e decisões, é chegada a hora de deixarmos nossa ignorância de lado e entendermos os conceitos. É chegada a hora de nos envolvermos. O Brasil não pode aceitar um golpe. A população é que deve, através de um plebiscito, dar um golpe nos maus políticos.
*Delmar Bertuol é escritor, membro da Academia Montenegrina de Letras, graduando em história e colaborou para Pragmatismo Político
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