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O mundo masculinizado da Economia

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Zélia de Mello Cardoso, Yeda Crusius e Miriam Belchior (Imagem: Pragmatismo Político)

Eric Gil*

Quando ingressei em minha graduação de Ciências Econômicas no ano de 2008 na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), me deparei com uma turma com um razoável percentual de mulheres, chegando a ser maioria da sala de aula, assim como é a característica da universidade brasileira, uma maior presença feminina relativamente à masculina.

No entanto, é perceptível que etapa por etapa que se passa dentro da universidade as mulheres ficam cada vez mais no meio do caminho. Mesmo dentro da graduação podemos ver este processo em andamento, muito em projetos de pesquisa, extensão e de monitoria, um funilamento constante. Mas o que me chamava realmente a atenção era quando íamos para o corpo docente do departamento. Nesta fase os homens já invertiam e passavam a ser a maioria. Para se ter uma ideia, no Brasil, em 2012 segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), foram registradas 362.732 funções docentes, 45,2% do sexo feminino e 54,8% do sexo masculino.

Bem, mas isto é fichinha para o problema real, a total marginalização das mulheres na formulação da política econômica brasileira. Para termos noção disto analisemos os dirigentes da Troika brasileira: Ministério da Fazenda; Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão; e Banco Central do Brasil.

No Ministério da Fazenda, órgão que existe desde 1808, ainda no Reinado de João VI, quando a pasta ainda era de Estado dos Negócios do Brasil e da Fazenda e Presidente do Real Erário, já houve, até 2015, 177 nomeações para a direção do Ministério. Deste universo, apenas uma mulher foi nomeada, Zélia de Mello Cardoso (o que cá entre nós não seria nenhum orgulho para as mulheres feministas), no governo de Fernando Collor, passando pouco mais de um ano no cargo. Quer dizer que do total de nomeações, apenas 0,56% foi de mulheres (de mulher, para ser mais exato), isto em uma história de 207 anos. Mesmo hoje, na gestão de Joaquim Levy, nenhuma das seis secretarias do Ministério é ocupada por mulheres, apenas as encontramos em cargos menos importantes deste órgão.

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Já no Planejamento, Ministério criado em 1962 e ocupado pela primeira vez por Celso Furtado, a história não é tão diferente. Nos 53 anos de história, 25 pessoas (ou 8% do total) foram nomeadas para dirigir a pasta, sendo apenas duas delas mulheres, Yeda Crusius no governo Itamar Franco, e Miriam Belchior no governo Dilma. Mas é importante frisar que estas duas assumiram o Ministério apenas quando este órgão passou a ter menos poder na política econômica do que a Fazenda (o Planejamento teve maior força principalmente no período da ditadura civil-militar).

Por fim, no Banco Central do Brasil a situação é ainda mais deplorável. Instituição que completa 50 anos neste mês de março, nunca teve uma mulher a sua frente. De 1964 a 2015, 22 presidentes homens, como manda a cartilha de um mundo dominado por este sexo. Além disto, se considerarmos também as diretorias (o segundo escalão desta instituição) apenas duas mulheres foram nomeadas (uma no governo FHC e outra no governo Lula), dentre os inúmeros indivíduos que já passaram pelas diretorias da autoridade monetária brasileira.

Bem, neste dia oito de março, o dia internacional das mulheres, dia de muita luta por direitos como igualdade salarial, legalização do aborto, casas abrigo, creche, e um longo etc., conseguir o seu lugar ao sol na principal política do país, a econômica, é pauta urgente. Com tantas economistas entre os principais intelectos do país o que justificaria esta ausência nas maiores instâncias de decisão do governo? Para mim só uma sociedade patriarcal e machista.

*Eric Gil é economista do Instituto Latino-americano de Estudos Socioeconômicos (ILAESE) formado pela Universidade Federal da Paraíba, mestre e doutorando em Ciência Política pela Universidade Federal do Paraná; escreve quinzenalmente para Pragmatismo Político

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