O sistema de 'aluguel de maridos' em Moscou
Prefeitura de Moscou anuncia criação de sistema de 'aluguel de maridos' como serviço social. Governo quer oferecer tarefas 'tradicionalmente feitas por homens'; há anos, serviços baseados em estereótipos de gênero são explorados por empresas russas
A Prefeitura de Moscou quer fornecer um sistema de “aluguel de maridos” como novo serviço social aos habitantes da capital russa, reportou a imprensa local nesta terça-feira (10/03).
A proposta é oferecer tarefas “tradicionalmente feitas por homens” dentro das residências, como “trocar lâmpadas e instalar móveis”, explica Andrei Besshtanko, vice-chefe do departamento de proteção social da prefeitura, ao jornal Izvestia.
Com duração de uma hora, o projeto será gratuito aos moscovitas que comprovarem ter uma renda inferior a 18 mil rublos, o equivalente a R$ 900. Para outros cidadãos, o serviço terá uma taxa que variará entrer 60 a 230 rublos (R$ 3 a R$ 11,50), abaixo do preço do mercado.
No setor privado, já existem dezenas de companhias que oferecem essa modalidade na Rússia. No entanto, empresários alegam que, desde a desvalorização crescente do rublo após sanções internacionais no fim do ano passado, esse setor do mercado esfriou com a falta de demanda.
Na Rússia, o papel social do homem como chefe de família e da mulher como mãe e responsável pelo lar são ainda muito fortes. Há anos, serviços domésticos engessados em estereótipos de gênero são explorados por empresas russas.
Em 2013, uma companhia criou “Esposa ideal – por uma hora”. Por 800 rublos (R$ 55), é possível contratar a “esposa básica”, que executa “todos os serviços de limpeza – desde a faxina rotineira até limpezas químicas mais complexas”.
Entre a população russa, prevalece a ideia de que não existe discriminação de gênero no país, apesar de os dados de acesso a emprego, salário e violência contra a mulher demonstrarem o contrário.
Segundo Elena Mezentseva, do Centro de Estudos de Gênero de Moscou, o salário das mulheres equivalia a 70% do masculino nos anos 80; na década de 90, 52%; nos anos 2000; 50%. Os dados de violência doméstica também não são otimistas: uma mulher é morta a cada 40 minutos no país, vítima de violência.