Região na Califórnia onde estão sediadas empresas como Google e Facebook tem cada vez mais concorrentes: Quênia, Coreia do Sul, Brasil e Rússia apostam em 'smart cities', centros urbanos de fomento e hospedagem de empresas do setor. Para além do Vale do Silício, saiba mais sobre os 4 novos polos de tecnologia e inovação espalhados pelo mundo
A história é conhecida: o Vale do Silício, na Califórnia, EUA, é o epicentro da revolução tecnológica, principalmente no âmbito da Internet; lá as empresas dão café da manhã gratuito e sala de jogos para os funcionários relaxarem; é onde os inovadores do mundo todo querem morar, apesar do custo de vida altíssimo; e é onde as pessoas desejam ter três empregos: um ganha-pão, outro por prazer e um terceiro que seria o projeto que te fará rico e colocará teu nome na posteridade.
Lá estão Google, Evernote, Eletronic Arts, Yahoo, Facebook, LinkedIn, Apple, Netflix e eBay. Lá você pode conhecer a garagem onde Steve Jobs criou seu primeiro computador. Aqui ocorreram grandes movimentos da contracultura e o consumo de LSD propiciou a expansão das consciências. O Vale do Silício tem até mesmo sua própria série de TV, a “Silicon Valley”, na HBO.
No entanto, o mundo é grande demais para que tudo o que existe de cool, geek e tech se concentre unicamente nessa área ao sul da Baía de São Francisco. Por isso, com menos ou mais dinheiro, respeitando ou violando os princípios que deram origem ao que hoje é o Vale do Silício, em diversos cantos do planeta estão surgindo outros epicentros equivalentes. Como a Mediapolis, de Cingapura, a cerca de 15 quilômetros do centro da capital. Ou Otaniemi, bairro tecnológico de Espoo, próxima a Helsinque, na Finlândia – entre outras, estão lá as sedes da Nokia e da Rovio Entertainment, desenvolvedora do jogo Angry Birds. Ou a Milla Digital, em Zaragoza, um “quadrilátero digital” concebido pela prefeitura para abrigar start-ups e as sedes espanholas dos gigantes da internet.
Conheça outras “cidades do futuro”:
New Songdo, Coreia do Sul
New Songdo terá um terço do tamanho de Manhattan e está sendo construída em uma ilha que era um antigo depósito de lixo, a cerca de 60 quilômetros de Seul, diante da cidade de Inchon. Em New Songdo tudo, desde as roupas até o ar, passando pelos veículos ou até pelas portas das casas, estará conectado por uma espécie de Internet mais rápida e inteligente que a atual.
Seu orçamento é de 25 bilhões de dólares, o que a torna o maior projeto imobiliário privado do mundo. Espera-se que a cidade esteja terminada em 2015 e que hospede cerca de sessenta e cinco mil pessoas. Ela também possui os arranha-céus mais altos da Coreia do Sul.
A cidade também pretende ser um modelo de estilo de vida digital. Alguns exemplos futuristas serão as latas de separação de lixo para reciclagem que aproveitam a tecnologia de identificação por radiofrequência para atribuir pontos toda vez que alguém deposita nelas uma garrafa. Ou telefones celulares que armazenam histórico clínico e podem servir para apresentar receitas médicas.
Os habitantes de New Songdo também poderão desfrutar de chamadas por videoconferência entre vizinhos. A cidade terá 40% dos edifícios certificados como ecologicamente corretos e emitirá um terço a menos da quantidade de gás carbônica emitida por outras localidades no país.
Konza Techno City, Quênia
A uma viagem de uma hora e meia partindo do sudeste de Nairóbi, capital do Quênia, começa a ser construída a Konza Techno City, “cidade tecnológica” que espera reunir 500 mil habitantes e as melhores empresas de tecnologia do país.
No entanto, ainda não há quase nada à vista: a primeira pedra foi colocada no dia da inauguração do projeto, em janeiro de 2013, em evento conduzido por Uhuru Kenyatta, presidente do Quênia.
Há maquetes que nos dão uma ideia de como será Konza no futuro próximo. A cidade contará com edifícios dedicados à pesquisa científica e às empresas digitais sediadas ali. Tudo estará conectado por fibra ótica. Há quem se refira ao complexo como “Savana do Silício“; no entanto, alguns críticos se referem ao projeto como um capricho típico de uma ditadura africana – apesar de o Quênia não ser uma delas. Será que realmente faz falta uma smart city faraônica em meio à savana africana?
Seja como for, Nairóbi já conta com uma vibrante comunidade de start-ups, e lá nasceram projetos como o Ushahidi, uma plataforma virtual que permite o mapeamento de informações vitais em zonas de catástrofe ou conflito.
Porto Digital, Brasil
Em Recife, no nordeste do Brasil, encontramos o Porto Digital, já completamente em funcionamento. Na verdade, o Porto Digital é resultado de uma reforma feita nos anos 2000 pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação no porto de Recife. Ainda que, antes disso, Recife já fosse um ponto de referência nas rotas de comércio mundial, a cidade agora aspira se tornar o mesmo no âmbito do intercâmbio de serviços digitais.
Em 50 mil metros quadrados há 35 restaurantes, três centros culturais, um museu e uma universidade. Instalaram-se aqui mais de 200 start-ups, com cerca de sete mil empregados, e 25 quilômetros de fibra ótica foram estendidos pelas ruas da cidade.
O mais relevante no Porto Digital, contudo, é que esta foi uma das primeiras cidades digitais criadas de acordo com o modelo da tríplice hélice, o “Triple Helix Model“, desenvolvido por Henry Etzkowitz nos anos 90. O modelo planeja a inovação como interação de três setores da sociedade: o mundo universitário, a indústria e o Estado. A tentativa, no Porto Digital, é evitar a oposição entre poder público e poder privado: pretende-se que convivam harmonicamente e se alimentem da pesquisa acadêmica.
Skolkovo, Rússia
Esta cidade digital fica a um pulo de Moscou. Na verdade, está previsto que dentro de pouco tempo será possível ir de Moscou a Skolkovo de metrô. No entanto, ainda é cedo para saber se a versão russa do Vale do Silício vingará.
Por enquanto é uma extensão de terra em que uma miríade de trabalhadores – na sua maior parte de procedência georgiana, armênia ou de antigas repúblicas soviéticas – constrói os primeiros edifícios.
O primeiro finalizado, inaugurado no fim de 2012, chama-se “O Cubo”. Não é o único edifício futurista: também está projetada “A Esfera”, uma enorme bola de cristal desenhada por arquitetos japoneses que abrigará um microclima californiano, semelhante ao do Vale do Silício, a fim de fazer os presentes esquecerem os -30ºC do lado de fora.
Carros serão proibidos em Skolkovo, a fim de manter a sintonia com a pujante preocupação ambiental existente no Vale do Silício. Conforme explica o jornalista francês Frédéric Martel em seu livro “Smart”: “A cidade inovadora russa terá cinco aglomerações tecnológicas centradas nas cinco prioridades setoriais que permitirão a modernização do país: a eficiência energética, a biomedicina, as tecnologias nucleares, o espaço e as telecomunicações. Mais de mil empresas de distintos setores já se instalaram ‘virtualmente’ nesta zona econômica especial.”
Apesar de as obras estarem atrasadas, estima-se que a cidade estará pronta em 2030. Sua inauguração oficial, no entanto, está marcada para 2016.
Talvez possamos dar um voto de confiança à terra que viu nascer Serguei Brin, co-fundador do Google, e Pável Dúrov, fundador da versão russa do Facebook, o VKontakte. Dúrov acredita que a música, o cinema e os livros devem ser consumidos de graça, além de ser taoísta, vegetariano, pastafári e autor de um manifesto anarcocapitalista.
Sergio Parra, Jot Down | Tradução: Henrique Mendes, Opera Mundi
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