Por quem as panelas dobram?
André Falcão*
Impossível não comentar o famoso panelaço realizado por setores de classe média e alta de algumas cidades do sul, sudeste e centro-oeste do país, durante o pronunciamento da presidenta da república, realizado domingo último em rede nacional.
Porém, para quem testemunhou — felizmente não de corpo presente, com receio de ser com eles confundido — a Presidenta Dilma ser mandada tomar no c… e vaiada por um público maciçamente de classe média e alta durante a abertura dos jogos da Copa de 2014, deixando o mundo inteiro boquiaberto, para dizer o mínimo — sim, aquela Copa que não iria acontecer, onde haveria quebra-quebra, os ônibus, metrôs e trens não funcionariam, os aeroportos não ficariam prontos, etc. —, depois o hino chileno ser vaiado durante a solenidade que precedeu ao jogo disputado pelo Chile com o Brasil (que vergonha!), confesso que não vi nada demais no panelaço ou nas vaias. Claro que o som das vaias e panelas não lhes satisfazem, e o xingamento machista execrável haveria de vir: vaca!, bradaram os covardes.
Mas como dizia, o panelaço e as vaias são próprios da democracia. O que me deixa intrigado, tentando considerá-los resultantes de uma construção mental racional, é contra o quê, exatamente, batiam.
Seria porque em apenas dois meses de governo Dilma há maior transferência de renda do que a soma dos oito anos de mandado do governo FHC? Seria porque a empregada doméstica de alguns teria passado no ENEM e a filha dos patrões, não? Seria, ainda, porque mais de quarenta milhões de brasileiros teriam ingressado na classe média, a viajar de avião até para o estrangeiro, sentados na poltrona ao lado da irresignada paneleira? Ou simplesmente seria porque a corrupção, ao ser combatida como jamais o foi antes do governo Lula, ao atingir servidores subalternos e altas autoridades do país atingem, também, os que lhes fornecem o combustível à sua existência, a propina milionária, o financiamento empresarial de campanha?
Leia aqui todos os textos de André Falcão
Há alguns anos atrás tentaram mudar o nome da Petrobras para Petrobrax, reduziram o seu papel e pretendiam entregá-la, completamente, ao capital privado. As denúncias de corrupção não iam à frente. Veio o governo Lula e a Petrobras tornou-se umas das maiores empresas petrolíferas do mundo.
Agora, o maior vício de que padece boa parte dos brasileiros, a corrupção, está sendo de lá extirpada, espera-se com a amplitude necessária.
Afinal, por quem dobram, então, as panelas gourmet?
*André Falcão é advogado e autor do Blog do André Falcão. Escreve semanalmente para Pragmatismo Político