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Sobre a elite burra e a legitimidade das manifestações

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Manifestações em 15/03/2015 (Imagem: Pragmatismo Político)

Mailson Ramos*

Não costumo explicar aquilo que escrevo. Deixo nas sublinhas a crença que tenho na compreensão do leitor. E a cada dia que passa, a cada publicação, seja nos meus sites, seja nos portais de notícias a quem tenho o prazer de amplificar minhas ideias, tenho leitores que dispensam uma explicação, uma errata, uma redefinição de palavras mal interpretadas. Não devo fazer como os famosos colunistas que, de tão arrogantes, não são capazes de descer aos comentários para ratificar ou elucidar o que disse anteriormente. Também não é com estes dois intuitos que escrevo o presente artigo. Não hesitei em chamar a elite brasileira de burra. Burra, como somente pode ser uma classe que tem tudo para transformar o país e se apega apenas aos zelos de seus pares, de suas ideologias, de sua política egoística.

Soou bravo o chulo adjetivo. Mas o adjetivo não muda em nada a classificação desta classe que se preocupou em encapuzar-se nos estereótipos, duplicar o ódio que se esparrama pelas ruas e refletir quem eram e o que eram capazes de fazer caso o governo os desagradasse. Por falar em encapuzar-se, os pretensos elitistas que têm casa na praia ou um apartamento nos bairros nobres das grandes cidades não deveriam nem entrar nesta briga. Os textos trazem referências claras a todos aqueles que, num passe de mágica e contrários à eleição de Dilma, tinham dinheiro o suficiente para habitar ou fugir para Miami. Elite burra e covarde. Porque não é qualquer brasileiro que abandona seu país sem antes lutar por ele.

O colunista corre o risco de definir a generalidade quando o assunto é restrito ou de restringir o assunto quando este clama por generalidade. Mas o fato é que a elite brasileira, sendo assunto restrito da sociedade por sua minoria demográfica, consegue alcançar a generalidade das discussões por suas posições nada democráticas. E para construir argumentos que comprovem estas posições antidemocráticas é preciso antes incomodar do que encontrar adeptos às nossas convicções. Não seria segredo dizer que um colunista jamais espera anuências às suas ideias, mas apenas que elas encontrem espaço aberto na criticidade de quem as lê. Sendo crítico, o leitor é capaz de enxergar nas entrelinhas, citadas anteriormente, o elo definidor da mensagem.

Dizer que a elite brasileira é burra pode soar tão grotesco quanto dizer que as manifestações do dia 15/03 foram ilegítimas. Eis aí outro assunto difícil de compreender por parte de alguns leitores. Ora, referíamos-nos a uma manifestação de natureza legítima quanto à sua legalidade constitucional, mas ilegítima no que se refere à política e à história brasileira. Há de compreender o amigo leitor a irresponsabilidade de quem, numa manifestação dita ‘legítima’, se ancora em ideias golpistas, intervencionistas e até desumanos. O que se viu nos desfiles do domingo, com raras exceções, foi uma festival de reverência a um poder antidemocrático. Pedia-se impeachment que aos olhos da justiça não tem fundamento legal; pedia-se golpe de Estado e intervenção das forças armadas para ‘restabelecer a ordem’; pedia-se a renúncia porque a presidente do país não tem condições de governar; pedia–se não à corrupção quando paladinos da moral, desfilando nas mesmas vias, tinham e tem uma ficha encrostada de sujeira.

Leia aqui todos os textos de Mailson Ramos

Como pode ser legítima uma manifestação cujos cartazes denotam uma ojeriza de classe que expõe uma aversão à ‘doutrinação marxista’ ou que pede um ‘basta a Paulo Freire’? Como poderia eu, colunista, observador incansável deste momento da política nacional, fechar os olhos e atribuir a esta manifestação um título de legitimidade ou de respeito à democracia? Vergonhoso foi perceber que a cobertura da imprensa sugeriu uma luta dos brasileiros contra o governo da presidente Dilma. A mentira mais deslavada do mundo, contada ao vivo pelos jornalistas da TV Globo que cobriam o evento, era de que todas as classes e todos os eleitores reivindicavam seus direitos e pediam o impeachment de Dilma. Logo depois o Datafolha estipularia que 82% dos manifestantes eram aecistas.

Por falar em Globo, nunca se viu tanta legitimidade desconstruída a partir de números. Na Avenida Paulista cabiam centenas de milhares de pessoas, mas os espaços escuros, denunciando o asfalto, negavam as contagens da emissora dos Marinho. Foram eles, os jornalistas globais, a atrair gente para as ruas com sua cobertura tendenciosa e, pela última vez, mascarada com a cantilena velha e enfadonha do bom jornalismo. Diante destas constatações, não poderia atribuir outro título ao artigo escrito senão retratando a manifestação ilegítima. Não é este apenas um modo de dialogar com os leitores que tem acompanhado minhas publicações. É simplesmente o desejo de que eles continuem, segundo seu senso de criticidade, reformulando ideias que não as ideias previamente estabelecidas pelo poder midiático deste país. Que se não é ilegítimo, é imoral.

*Mailson Ramos é escritor, profissional de Relações Públicas e autor do blog Nossa Política. Escreve semanalmente para Pragmatismo Político.

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