André Falcão*
Vai pra Cuba!, esgoelava-se, imaginando estar a agredir quem, como eu, entende que os governos Lula e Dilma, com todas as dificuldades e equívocos em que incorreram, são os melhores que este país já foi capaz de eleger e construir. Dados matemáticos provam irrefutavelmente o que afirmo, para ficar só neles. Abstenho-me de citá-los. Estão na internet, para quem quiser conhecê-los.
Uma vez um alagoano, vendo-me a tecer elogios a Cuba em uma rede social, provavelmente ao sucesso de suas políticas educacional e de saúde, indagou-me: André, você já foi a Cuba?, querendo com sua pergunta insinuar que eu só a defendia porque não a conhecia. Claro que para quem, como eu, conhecia um tanto da história e da realidade da ilha (ou das ilhas, como mais correto), mesmo sem lá ter ido, sua pergunta capciosa não encontrava guarida ao fim desejado. Mas ele podia fazê-lo, afinal estivera lá.
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Noutra vez, assisti numa rede social alguém destilar lamentações do quão a pobre Cuba estava decadente, naturalmente face ao governo socialista que lá se implantara. Pobre Cuba, lamentava, com sua sensibilidade forjada no preconceito e, por isto mesmo, na ignorância acerca da história daquele povo.
Tratando-se de velho desejo irrefreável, fui à Cuba. E confesso que me surpreendi lembrando-me de suas observações, notadamente porque me era difícil compreender como alguém ligado às artes (ambos supostamente eram) poderia ter uma visão tão preconceituosa, limitada e canhestra acerca da ilha caribenha; a gente sempre tem a ideia (falsa, entretanto) de que um sujeito assim, por em princípio ter a sensibilidade mais aguçada, escaparia do preconceito ideológico que lhe fora, como aos brasileiros em geral, incutido. Ledo engano.
Então, fui. E constatei que Cuba era ainda muito mais impressionante, admirável, bela e culta do que imaginara. Se antes já admirava o cubano, passei a fazê-lo com a razão escorada no testemunho diariamente observado e constatado em cada esquina de qualquer aglomerado urbano de suas muitas cidades.
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Aprendi muito. Mas por ora finalizo dizendo que uma das maiores lições que aprendi é que uma nação é mesmo feita de seu povo. Cuba é alegria, generosidade, sacrifício, coragem, beleza, luta, orgulho, autoestima elevada, educação, cultura, amor. E o povo cubano é o maior responsável por Cuba ser o que é. Lembrei-me das vaias e ataques sofridas por seus médicos ao desembarcarem em meu país. E intimamente aplaudi-os novamente, agora ainda mais envergonhado…
*André Falcão é advogado e autor do Blog do André Falcão. Escreve semanalmente para Pragmatismo Político
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