Vaiado, manifestantes impedem Bolsonaro de discursar em protesto anti-Dilma
Convidado pelos organizadores a discursar no protesto anti-Dilma, Jair Bolsonaro é vaiado e desiste. Apesar da vaia, muitas pessoas ficaram em volta do deputado para tirar fotos e pedir autógrafos. O parlamentar já assume que será candidato à Presidência da República em 2018
Tinha tudo para ser um dia perfeito e inesquecível para o deputado federal Jair Bolsonaro (PP). O controverso parlamentar é ferrenho opositor da presidenta Dilma Rousseff (PT), já protocolou pedido de impeachment contra ela, e, durante a semana, publicou convocações em seu Facebook pedindo a presença de seus eleitores ao seu lado, numa marcha do Leblon até a Copacabana, onde cerca de 15 mil pessoas se reuniram para protestar contra o atual governo. Mas na hora de subir em um dos trios elétricos e discursar para multidão, foi impedido pela maioria dos presentes.
Por volta de 09h da manhã, cerca de 200 pessoas já haviam atendido o chamado do parlamentar. Na altura do posto 9, em Ipanema, um homem rompeu o silêncio e gritou: “Bolsonaro presidente!”
Na frente da marcha, pessoas com camisas da página Revoltados OnLine usavam rádio transmissores, para organizar a velocidade do movimento. Chamou a atenção, também, o ritmo da caminhada. Com passos acelerados, o grupo percorreu o trajeto em pouco mais de 15 minutos.
Durante a caminhada, Bolsonaro posou para ‘selfies’ e voltou a manifestar vontade de sair do PP. “Quero ir para um partido que me respeite”, declarou, enquanto o clima saiu da contestação ao governo petista para se transformar em um comício espontâneo a favor de sua candidatura.
Quando o grupo chegou perto do Forte de Copacabana, o primeiro tumulto: o jornalista José Otávio Sebadelhe estava num quiosque,mas ao ver o grupo não resistiu e gritou “abaixo o golpe”. Prontamente, um grupo mais exaltou o cercou e começou a gritar “vai pra Cuba” e o chamaram de “comunista”, “vagabundo”, entre outros termos. Depois da confusão, que não chegou às vias de fato, José disse que é morador der Copacabana e é contra o protesto. “Esse pessoal tinha que procurar colocar o Brasil pra frente. Não é assim”.
Jair Bolsonaro dedidiu ficar atrás do terceiro e último trio elétrico. Sobre ele, Rodrigo Constantino, colunista da revista Veja, um dos mestres de cerimônia do evento. “Nós não somos as prostitutas mais baratas do mundo! Eles se venderam por trinta doláres”, disparou ele, que recentemente anunciou sua mudança para Miami, nos Estados Unidos. Atrás dele e ao seu lado, a maior concentração de pessoas que pediram intervenção militar com faixas e cartazes. E tome ‘selife’ com o parlamentar. Ao seu lado, seu filho, o deputado estadual Flávio Bolsonaro era timidamente saudado.
Na hora da consagração, o segundo e maior problema: chamado pelo Movimento Brasil Livre para falar, o parlamentar foi vaiado. “Se é pelo bem da manifestação, então, ele não sobe”, disse o integrante do MBL, enquanto o grupo ao redor de Bolsonaro mantinha os aplausos que começaram no Leblon. Ao redor, as vaias foram tantas que o deputado, constrangido, parou no meio do caminho e não subiu. “A gente concorda que é necessário o impeachment, mas esse cara aí defende militar no poder e é contra os direitos da minoria. Tem muita gente aqui que não acredita e nem vota nele”, disse Paulo Emílio, 42 anos, morador de Copacabana.
Bolsonaro é conhecido pela defesa que faz dos militares e o retorno deles ao poder. Indagado se esta seria uma pauta da convocação promovida por ele no Facebook, e dos que estavam ao seu lado disse apenas que os ‘militares também são gente’. Na esquina da Rua Santa Clara, um homem usava uma lata de lixo improvisada como caixa de som. Era a chance do deputado, enfim, discursar. “O Brasil não vai virar Venezuela”, garantiu, antes de ser cercado pelos que ainda não haviam conseguido a ‘selfie’ e seguidamente vaiado pelos que não queriam ouvir suas ideias. Não foi um domingo tão tranquilo assim.
Leandro Resende, O Dia