André Falcão*
Seu ódio não é contra a corrupção, cujo manto podre vem sendo levantado, ainda que com holofotes e megafones voltados só para um dos lados do espectro político, mais particularmente para o governo e o PT, que independentemente de seu voto vem vencendo todas as eleições presidenciais.
Seu ódio não é contra a corrupção, que desde 2003 é combatida com instituições finalmente livres do cabresto dos donos de ocasião do poder, com o auxílio de mecanismos de controle criados por esses governos, sem espaço para engavetamento de inquéritos por procurador amestrado, e com os órgãos policiais efetivamente autônomos e livres para investigar o que e quem quer que seja, com toda a publicidade.
Seu ódio não é contra a corrupção, porque você não é estúpido para acreditar que a corrupção é algo novo no Brasil, nascida, criada e desenvolvida por alguns inescrupulosos que possam estar enfileirados em partidos de esquerda, ou de centro-esquerda, como o PT, que merecem, sim, os rigores da lei, mas não seletivamente.
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Seu ódio não é contra a corrupção, porque você sabe que os grandes grupos midiáticos são useiros e vezeiros na utilização de “dois pesos, duas medidas” quando se trata desse tema, ou quando se trata de qualquer outro tema que possa ser negativo ou positivo ao governo; se negativo, amplificadores, quando não o engodo, o falseamento, a manipulação, a mentira deslavada; se positivo, o silêncio, na melhor das hipóteses.
Seu ódio, meu caro, é porque você não aguenta um governo que finalmente tenha desejado e conseguido realizar, num mundo capitalista visivelmente decadente, alguma coisa de justiça social, ainda que com mais de quinhentos anos de atraso; seu ódio é porque você não suporta a ideia de que as pessoas comecem a compreender que elas podem ter uma vida melhor, porque isto não pode e não deve ser um privilégio ditado pelas oportunidades dadas apenas a quem teve um berço rico ou remediado para nascer; seu ódio é porque você é individualista, mesquinho e egoísta, além de complexado por não suportar que a filha(o) de sua(eu) empregada(o) esteja cursando uma faculdade no exterior e a(o) sua(eu) tenha perdido o terceiro ou quarto vestibular; seu ódio é porque sem gente desqualificada e sem direitos você daqui a pouco sequer empregada poderá ter.
Seu ódio, por favor, sem hipocrisia, vamos combinar?, não é contra a presidenta Dilma, mulher honrada e corajosa, eleita legitimamente: seu ódio é porque já está evidente que o “pobre”, hoje, é você.
*André Falcão é advogado e autor do Blog do André Falcão. Escreve semanalmente para Pragmatismo Político
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