Se a ânsia é contra a corrupção e se ela deve ser varrida da nossa política, por que os senadores do PSDB não assinaram a CPI do HSBC?
Mailson Ramos*
A ânsia dos manifestantes de 15 de março era o combate à corrupção. O único ponto pacífico entre suas opiniões e as minhas é este. Nada mais nos identifica. E por quê? É simples explicar: no meio daquela turba desenfreada que vociferava “fora PT” existiam políticos que alguns dias depois seriam denunciados por recebimento de propina. Posso citar um nome? Agripino Maia (DEM-RN). Se a ânsia é contra a corrupção e se ela deve ser varrida da nossa política, por que os senadores do PSDB não assinaram a CPI do HSBC? Como se explica a inércia de um partido que defende a anticorrupção diante de um esquema bilionário de irregularidades em contas bancárias no exterior? Definamos, portanto, uma análise concreta dos lugares de fala e do que tem sido a luta dos tucanos contra a corrupção, esta endemia que o atormenta?
Alberto Youssef tem as delações premiadas mais vistas na história da justiça brasileira. E vejam os senhores e senhoras que a investigação é de caráter “sigiloso”. Textos transcritos e videos marcam a participação do doleiro nas investigações sobre o esquema de corrupção na Petrobras. De repente vaza uma gravação em que Youssef relata o recebimento de propina do então deputado estadual Aécio Neves junto à uma diretoria de Furnas. A Lista de Furnas era até então peça literária criada pela esquerda, segundo um articulista de ‘Veja’. Este mesmo articulista teria o nome citado em documentos com letras garrafais: Reinaldo Azevedo. Ele é um dos principais “guerrilheiros” contra a “corrupção petista”. A Lista de Furnas, não como peça literária, passou pelo crivo da PF, tendo sido atestada sua legitimidade para fins de investigação.
Não é necessário ir adiante com elucubrações que somente ilustrarão o analfabetismo político de quem pisou os pés nas avenidas deste país no fatídico meado de março. Não vale a pena porque eles não estão interessados em varrer a corrupção do país, muito menos impor justiça a todos os políticos descomprometidos com a verdade. Se acaso fosse de interesse varrer a sujeira deste país, os reacionários começariam por seus próprios carpetes onde se acumula uma imundícia intocável pelas mãos da justiça. É vergonhoso. Faz-se necessário, agora, assumir todos os erros, inclusive aqueles que a história suprimiu. Porque jamais foi contada com detalhes a compra da reeleição de FHC, os mecanismos de pagamento das propinas de Furnas, a construção do aeroporto de Cláudio.
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Fosse esta uma luta amplificada contra a corrupção, não estaria apenas o PT no banco dos réus. Estar no banco dos réus faz com que o PT repense suas atitudes como partido do governo. Mas se as outras legendas são isentas e passam despercebidas pelo crivo da imprensa e da justiça, dirá a sociedade que elas são honestas. Ora, não sejamos inocentes. O Brasil cai pelas tabelas justamente porque a corrupção é fisiológica aos partidos. Enquanto não se discute profundamente estas questões, a imprensa traça um roteiro que nos faz crer numa República sucateada por um partido e que pode se restabelecer caso elejamos o candidato de sua preferência.
Paulo Roberto Costa foi tratado como “amigo” da justiça enquanto delatou os esquemas envolvendo o Partidos dos Trabalhadores e os partidos da base aliada. Bastou falar que o falecido presidente do PSDB, Sergio Guerra, pagou propina para calar a CPI, se transformou em persona non grata para a imprensa e para os delegados da PF, sediados em Curitiba. Varrer a corrupção não é interesse apenas destes que foram às ruas no mês de março. É um interesse nacional e que não se concretiza na figura de ninguém, além do sujeito brasileiro e de suas instituições públicas. Não é Aécio Neves ou o PSDB a representação fidedigna da lisura na política nacional. Muito pelo contrário.
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*Mailson Ramos é escritor, profissional de Relações Públicas e autor do blog Nossa Política. Escreve semanalmente para Pragmatismo Político.
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