A notícia do início de AVC de Zé Dirceu e a morte do filho de Alckmin são episódios que permitem uma avaliação sobre onde repousa o ódio assassino nestes dias
Paulo Nogueira, DCM
Onde está o ódio: na direita ou na esquerda, ou em ambas? Dois episódios permitem uma comparação.
A notícia do início de AVC de Zé Dirceu e a morte do filho de Alckmin. Nas redes sociais, logo se multiplicaram votos de que o AVC matasse Zé Dirceu. A direita torcia descaradamente pelo AVC. Se você fizer uma busca na internet, encontrará registros do que há de mais sórdido e miserável na alma humana.
Não houve nada parecido com a notícia da morte de Thomaz Alckmin. Muita gente na esquerda se solidarizou publicamente com Alckmin pela perda brutal do filho caçula.
Esses dois comportamentos opostos não têm significado científico ou estatístico, mas são um indicador potente sobre onde repousa o ódio assassino nestes dias. Um episódio relativo a Thomaz mostra até onde vai a sede de sangue da direita.
Alguém falsificou tuítes em duas contas de pessoas progressistas: a cantora Pitty e a blogueira Lola Aronovich. Nos tuítes falsificados, as duas celebravam a morte de Thomaz.
Quem as conhece sabe que isso era uma completa impossibilidade. As duas se distinguem, cada qual do seu modo, por uma atitude humanista na qual simplesmente não cabe tripudiar sobre a dor alheia, ainda mais quando se trata da de um pai que perdeu o filho.
No caso de Pitty, a falsificação não floresceu. Mas para Lola se armou um pequeno inferno no qual sua sanidade mental foi duramente desafiada. Direitistas espalharam pelas redes sociais a mensagem falsa, e ela foi imediatamente massacrada.
A pancadaria só cessou quando, depois de cabalmente demonstrado que os tuítes eram obra de criminosos, Lola partiu para o contra-ataque e avisou que iria processar aqueles que estavam espalhando a mentira.
Entre os caluniadores, tive a desagradável surpresa de encontrar um ex-amigo, José Ruy Gandra. Perdemos contato há um bom tempo, e não sabia que ele se transformara em mais um troll de direita. No Facebook, ele instigou ódio contra Lola. Lola contou mais de 200 comentários no texto de Gandra, a maior parte deles de violência extrema.
É curioso que tanto ódio jorrasse de quem, como Gandra, supostamente estava ali combatendo o próprio ódio. Ele escreve sobre como educar os filhos, e me pergunto o que ele diz em casa sobre o ódio.
Sob a pressão de Lola, Gandra enfim apagou o texto em que ela foi linchada por 200 almas compassivas. “Não basta tirar o post”, escreveu ela para ele. “Tem que se retratar.”
Não sei se Lola afinal processará os caluniadores. Incentivada ela foi por seus seguidores e admiradores, mas Lola sabe como é árduo, e frequentemente inútil, o caminho da Justiça no Brasil.
Para mim, particularmente, ficou a imagem de um grupo de direita que perdeu qualquer noção de decência e civilidade – e que faz da internet território livre para seu ódio sem limites, sem ética e sem sentido.
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