As consequências da lei homofóbica na vida de homossexuais na Rússia
Documentário mostra impacto de lei homofóbica na vida de lésbicas e gays na Rússia. Curta-metragem 'Dia da Vitória' está na competição internacional do festival É Tudo Verdade, que acontece no Rio de Janeiro e em São Paulo
Adriano Garrett, Opera Mundi
O beijo protagonizado pelas personagens das atrizes Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg na estreia da novela “Babilônia”, da TV Globo, no último mês de março, provocou uma nota de repúdio da Frente Parlamentar Evangélica, presidida pelo deputado João Campos (PSDB-GO). O texto, que convoca um boicote ao programa e a seus anunciantes, diz que há uma “clara intenção de afrontar os cristãos em suas convicções e princípios” e que “essa é a forma encontrada para disseminar a ideologia de gênero, atacando diretamente a família natural”.
Enquanto no Brasil os parlamentares evangélicos ganham peso a cada eleição e normalmente rechaçam ações que garantam os direitos da população LGBT (como o casamento gay e a criminalização da homofobia) e que contrariem os seus dogmas (tal qual a legalização do aborto), na Rússia o ataque aos gays é ainda maior.
Recentemente, um candidato à Presidência da República brasileira que pregou enfrentamento à minoria homossexual e um deputado federal declaradamente homofóbico foram multados pela Justiça em primeira instância. No país de Vladimir Putin, a punição vem sendo dada não aos agressores, mas aos agredidos, como mostra o curta-metragem documental “Dia da Vitória”, de Alina Rudnitskaya, que faz parte da programação do 20º É Tudo Verdade – Festival Internacional de Documentários (veja abaixo os horários das sessões).
Sob o impacto da lei aprovada em 2013 pela Duma (câmara baixa do Parlamento russo), que proíbe a “propaganda de relacionamentos sexuais não tradicionais entre menores de idade” e prevê multas e até a prisão de quem descumpri-la, o filme entrevista diversos casais de homossexuais russos para saber como essa mudança na legislação afetou suas vidas pessoais.
Um professor diz que teme perder o emprego devido a sua orientação sexual, enquanto uma mulher afirma que foi demitida por essa mesma causa e fala sobre as dificuldades financeiras que enfrenta junto à sua parceira. É uma situação que evoca um medo de ser denunciado anonimamente que se assemelha ao ocorrido com comunistas (ou com aqueles que eram apontados como tais) durante o macarthismo nos EUA.
Já que a lei, na prática, acaba por ter o papel de tentar banir dos locais públicos qualquer tipo de atitude que vá contra os padrões heteronormativos, a liberdade dos homossexuais acaba reduzida a lugares fechados. Talvez seja por isso que a diretora do documentário optou por realizar todas as conversas nas próprias residências dos entrevistados.
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Em meio a informações triviais, como o modo pelo qual cada um deles se conheceu, o filme mostra a homofobia da sociedade russa adentrando aquelas casas através de vídeos da internet. Em um deles, manifestantes pró-LGBT sofrem um contraprotesto e são agredidos no meio da rua. Outra cena mostra um apresentador de um canal estatal russo dizendo que, em caso de acidentes de trânsito, os gays deveriam ter os corações “enterrados no solo ou queimados, como inadequados para a continuação de qualquer tipo de vida”. Ao fim da declaração, o auditório lotado aplaude.
Filmado no Dia da Vitória, feriado nacional que comemora o triunfo da União Soviética na Segunda Guerra Mundial, o documentário passa uma sensação de clausura e de desconforto com o preconceito. Enquanto tanques, soldados e populares celebram a data nas ruas, os homossexuais assistem de suas janelas às demonstrações de força de uma sociedade que, cada vez mais, faz questão de colocá-los à margem.
Sessões de “Dia da Vitória” no É Tudo Verdade:
– 15/4/2015 – 14h – Reserva Cultural (São Paulo)
– 18/4/2015 – 13h – Espaço Itaú Botafogo (Rio de Janeiro)
– 18/4/2015 – 17h – Centro Cultural São Paulo – Sala Paulo Emílio (São Paulo)
– 19/4/2015 – 19h – Oi Futuro Ipanema (Rio de Janeiro)