Mailson Ramos*
Há pouco tempo, assistindo a uma entrevista do jornalista Franklin Martins ao Observatório da Imprensa, guardei uma de suas frases, tanto que jamais a esqueci. Ele disse que “uma jamanta iria atropelar todas as empresas de comunicação no país, caso elas próprias não colocassem em pauta o marco regulatório das comunicações”. “Quem seria esta jamanta?”, indagaria o entrevistador Alberto Dines. Martins responderia categoricamente que a jamanta era o Google. Somente depois de analisar o crescimento das mídias sociais, com inigualável atenção ao Facebook e, mais recentemente, o WhatsApp, percebi que não apenas o Google poderia destroçar as empresas de comunicação, mas também as criações de Mark Zuckerberg.
Quando se pensa em engenharia de pesquisa na web nenhuma organização, através de seus portais e sites institucionais, está livre das políticas do Google. Esta engenharia é somente o fio da meada. Existe uma necessidade de que os usuários da internet, sejam eles simples navegantes ou importantes webmasters, adiram à tecnologia criada pela empresa americana para disseminar conteúdo na rede. Todos os louvores ao Google, afinal de contas, eles criaram diversas ferramentas e se tornaram de fato uma jamanta, como bem disse Franklin Martins; tornaram-se necessários para todas as atividades em rede: desde a simples busca de conteúdo até a criação de softwares livres indispensáveis à vida de quem trabalha e se diverte na web.
O Facebook tem mais poder do que supõe nossa virtualizada filosofia. O direcionamento das publicações nas timelines define o que deve ser visto ou não por cada usuário. Desta forma, é possível agregar conteúdos de acordo com a satisfação de cada usuário. É evidente que nem todos os conteúdos disponibilizados serão satisfatórios ou interessarão ao usuário. Mas pode-se dizer que através destes mecanismos, o Facebook determina uma praxis de produção de sentido. É inquestionável. Assim surgiram as manifestações de junho de 2013. Deu-se valor à rápida disseminação de informações; houve uma mobilização intensa na rede social, cujos parâmetros de adesão podiam ser mensurados pela multidão que foi às ruas.
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A mesma predeterminação do Facebook para o agendamento está presente no Google. Evidente que existe o ranqueamento, a indexação e a qualificação dos sites que despontam nas primeiras páginas do Google em determinados resultados de busca. Mas o estabelecimento destas diretrizes marcam, como no agendamento midiático tradicional (jornais, rádio e TV) as notícias, os artigos e as imagens. Mesmo assim, a internet é um espaço democrático. Dois sites que abordam temáticas políticas diferentes podem muito bem ter espaços respeitados e públicos suficientemente estabelecidos. Não há, a exemplo da televisão no Brasil, um monopólio estabelecido.
Se os grandes grupos de comunicação no Brasil não ‘largarem o osso’ e não aderirem à Lei de Meios, estarão escavando as próprias sepulturas. Sem a democratização, as grandes incorporações como Google e Facebook vão invadir, sem piedade, os espaços que outrora pertenceram aos tradicionais meios. Aliás, já têm invadido. Quantos amigos, por exemplo, o nobre navegante tem que não perdem as séries independentes produzidas no Youtube? Quantos amigos divagam horas e horas trabalhando ou mesmo se divertindo no Facebook? Quantos amigos pertencem a um grupo ou são usuários individuais do WhatsApp? Quantos amigos preferem listar as notícias do dia na internet e não nos jornais ou telejornais? Não é uma jamanta. São duas: Google e Facebook?
*Mailson Ramos é escritor, profissional de Relações Públicas e autor do blog Nossa Política. Escreve semanalmente para Pragmatismo Político.
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