Beto Richa (PSDB-PR) mobiliza forte organização militar para não arriscar que o projeto da Paranaprevidência volte a ser barrado. Paraná vive democracia sitiada e o cenário é de guerra
Eric Gil*
Dois meses depois do fim das grandes mobilizações feitas pelos servidores públicos estaduais do Paraná, onde os professores do estado foram protagonistas, o projeto que permitia a utilização do dinheiro da Paranaprevidência, instituição de previdência dos servidores públicos do Paraná, para integrar o orçamento cotidiano do estado (ou seja, permitia que o governo gastasse o dinheiro dos aposentados) volta a tramitar rapidamente na Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP), agora com algumas modificações no projeto. O projeto previa a fusão do fundo Previdenciário e do Fundo Paranaprevidência, agora prevê que mais de 33 mil funcionários saem da folha do tesouro e passam a ser pagos pelo Fundo Previdenciário, segundo informações sistematizadas pela Gazeta do Povo.
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Mas a diferença, desta vez, não é primordialmente o projeto e sim a organização militar, para não arriscar que o projeto volte a ser barrado, o palco agora é de guerra.
O governador do estado, Beto Richa (PSDB), convocou desde o sábado, dia 25, um montante de 1.120 policiais para impedir que os professores que voltaram a entrar em greve na última segunda-feira, montassem acampamento nos arredores da ALEP, localizada no bairro Centro Cívico em Curitiba, assim como foi feito em fevereiro. Naquela ocasião, o acampamento possibilitou uma constante organização da categoria para que posteriormente ocupasse por vários dias a Assembleia, o que impediu que fossem votados uma série de ajustes fiscais do governo, inclusive esta reforma na Paranaprevidência.
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Para garantir que o povo não chegasse à Assembleia Legislativa, o quarteirão inteiro foi interditado e a ALEP foi literalmente sitiada com barreiras e policiais. A casa que deveria ser a representação popular do estado foi – por vontade do governador Beto Richa – cercado para garantir a votação do projeto que apenas ele e sua base aliada acha digno. Na segunda-feira, primeiro dia de tramitação do projeto, não se via outra coisa no centro de Curitiba senão ônibus, camburões e carros socados de policiais armados em direção à Assembleia.
O governador tucano que dirige o estado há cinco anos, passa por uma crise financeira (crise esta tratada nesta coluna em artigo publicado no mês de fevereiro), o qual já resultou em demissões em massa de servidores temporários, cortes de benefícios e outros “ajustes”. Com isto, vê no dinheiro da Paranaprevidência, juntamente ao seu secretário da Fazenda, Mauro Ricardo Costa (um “mãos-de-tesouras” conhecido dos governos PSDBistas por todo o Brasil), sua redenção – a verba que ele precisa para amenizar a crise que ele mesmo ajudou a formar no Paraná.
Mas por que o governador precisa disto?
Em fevereiro, segundo o Instituto Paraná Pesquisas, 90% da população se declarava a favor da greve dos professores, e 80% a favor da ocupação da Assembleia Legislativa. Segundo o mesmo Instituto, após a série de cortes, greves e ocupações, o governador que foi eleito com 56% em primeiro turno, no ano passado, já tinha 76% de desaprovação (pesquisa de opinião publicada em março deste ano).
Com a sua baixa popularidade e uma mobilização que ganhou o apoio da população, inclusive por se tratar de um tema tão delicado quanto à aposentadoria dos servidores, o tucano não quer arriscar novamente, e nesta semana o projeto deve ser aprovado, pois com um aparato de guerra posto pelo Governo do Estado para esta proposta ser votada, apenas um crescimento considerável da resistência dos professores pode parar a sede pelo dinheiro da previdência estadual, por parte do Beto Richa.
Bem, por enquanto nos encontramos em uma democracia literalmente sitiada.
*Eric Gil é economista do Instituto Latino-americano de Estudos Socioeconômicos (ILAESE) formado pela Universidade Federal da Paraíba, mestre e doutorando em Ciência Política pela Universidade Federal do Paraná; escreve quinzenalmente para Pragmatismo Político
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