Entusiasta das manifestações a favor do impeachment, Nilson Lana foi à avenida paulista de verde e amarelo protestar contra a corrupção. "A sociedade não aguenta mais tanta mentira, tanta sacanagem. Até quando essa putaria? #foradilma", escreveu. Esta semana, Nilson foi flagrado oferecendo propina a quem lhe ajudar a retirar de sua Carteira de Habilitação as infrações de trânsito que cometeu
Nilson Lana é um entusiasta das manifestações que pedem o impeachment de Dilma Rousseff. No dia 15 de março, data do primeiro e maior ato já realizado contra a presidente, o jovem dirigiu-se à avenida paulista com a camisa verde e amarela da seleção brasileira para demonstrar sua indignação diante da corrupção no Brasil.
Nilson levou um cartaz com a seguinte frase: “Até quando essa Putaria?” e publicou uma foto de si mesmo erguendo o cartaz que rapidamente se espalhou nas redes sociais. Na legenda da postagem, escreveu: “A sociedade não aguenta mais tanta mentira, tanta corrupção, tanta sacanagem, falta de respeito ao povo, tantos impostos, taxas, alta carga tributária, falta de competência, mais deputados e senadores ladrões. CHEGA. #acordabrasil, #foradilma”.
Na última terça-feira, 5 de maio, menos de dois meses após externar descontentamento com a falta de ética na política brasileira, Nilson Lana publicou no Facebook um pedido de ajuda inusitado aos seus seguidores (imagem acima). O jovem sugere um pagamento de propina a quem lhe ajudar a transferir suas inúmeras infrações de trânsito.
Nilson cometeu infrações de trânsito que excedem o limite de 20 pontos na Carteira Nacional de Habilitação. Nada menos que 8 pontos por desobedecer ao rodízio de veículos na capital paulista, 10 pontos por estacionar em local proibido e 7 pontos por desrespeitar limites de velocidade.
“Amigos e amigas, precisando muito da ajuda de vocês… 8 pontos de rodízio, 10 de estacionamento proibido e 7 de excesso de velocidade. PAGO BEM. Contatos inbox… URGENTE”, escreveu o jovem.
Falso moralismo
Não é a primeira e nem será a última vez que casos como este se tornarão públicos. São contradições inerentes a quem coloca a corrupção como pauta central do debate político. O discurso vazio impede que o sujeito realize o importante exercício da autocrítica. Isto é, olhe para si próprio antes de apontar o defeito ou o erro do outro.
“Esses relatos são cada vez mais comuns. É o retrato de um segmento social que confunde política com moralismo. Um moralismo falso, claro”, afirma Miguel do Rosário, editor do blog O Cafezinho.
É importante destacar que ser ético não significa protestar contra a falta de ética dos outros. A isso chamamos de falso moralismo. Toda vez que o discurso da moralidade seletiva é invocado, o debate político é diminuído no Brasil.
“O cidadão vai às ruas fazer um protesto contra a corrupção, e semanas depois oferece, descaradamente, propina para quem lhe vender pontos na carteira de motorista. Não é a primeira vez que acontece. No Paraná, uma porção de gente que foi às ruas no dia 15 de março, protestar contra a corrupção, foi presa por… corrupção semanas depois, numa operação da policia local. Incluindo o primo do governador Beto Richa“, lembra Miguel.
Outro caso recente foi divulgado por Pragmatismo Político há dois meses, em meio às revelações dos nomes de brasileiros envolvidos no escândalo do HSBC – mundialmente conhecido como SwissLeaks. Paulo Moreira da Silva, ex-diretor do metrô de São Paulo e a sua filha, Fernanda Mano de Almeida, foram citados no esquema fraudulento do banco como detentores de uma conta com saldo de mais de U$ 3 milhões no paraíso fiscal.
Chamou a atenção o fato de Fernanda ser uma militante fervorosa “contra a corrupção” nas redes sociais. Em fevereiro do ano passado, ela postou uma imagem em seu perfil no qual aparece a seguinte inscrição: “Campanha contra a corrupção no Brasil – Eu tenho vergonha dos políticos brasileiros”
Justiçamento
A moralidade seletiva está a um passo de um sentimento mais perigoso: o ódio seletivo. Um anônimo fotógrafo do jornal O Estado de Minas teve o desprazer de ser alvo deste sentimento quando foi confundido com o ex-presidente Lula na manifestação de 12 de abril, em Belo Horizonte. Beto Novaes, que estava trabalhando, foi agredido e precisou se retirar do protesto.
SAIBA MAIS: E se não fosse um fotógrafo, mas o próprio ex-presidente Lula?
Seguindo na linha dos justiçamentos, o caso mais emblemático dos últimos anos envolveu um jovem negro que foi acorrentado a um poste e torturado no aterro do Flamengo, Rio de Janeiro. A atitude bárbara chegou a ser justificada como compreensível por alguns comentaristas da mídia brasileira. Meses depois, os responsáveis pelas agressões (ou, para outros, responsáveis por um ato justificável) foram presos. O motivo: a prática de crimes como roubo, furto de automóveis, estupro, além de tentativa de homicídio e associação ao tráfico. Eram todos jovens da alta classe média carioca.
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