Categories: Barbárie

A selvageria e o silêncio cúmplice

Share

Imagem: Pragmatismo Político

André Falcão*

Existem momentos que gostaríamos de não ter vivido. É assim que me sinto hoje. Vi colegas professores no chão, desmaiados, sendo chutados pela PM, a mando do secretário de Segurança Franschini.

Os outros colegas tentavam ajudar, em vão, pois quanto mais tentavam recuperar os feridos, mais bombas caíam sobre nós. Fomos massacrados durante duas horas.

A PM, armada de bombas de gás, spray de pimenta, treinamento militar, armas de fogo, e nós? O que tínhamos para nos defender? Apenas a nossa voz. Cercados, não havia para onde correr. Mesmo encurralados com as mãos para cima, as bombas não pararam. Um cenário de guerra.

Vi funcionários públicos em choque, em histeria, chorando (não é fácil ver um ser humano ser pisoteado e não poder fazer nada). Gritei a alguns soldados que estavam perto de mim: ‘Ajudem! Vocês estão aqui para nos proteger.’ Imóveis, eles apenas olhavam as viaturas. A ambulância não conseguia recolher os feridos.

Todos recuamos e buscamos abrigo na Prefeitura de Curitiba, onde outros paranaenses viam horrorizados a nossa dor e nosso desespero. No carro de som, o comando da APP sindicato gritava, já com a voz rouca: ‘policiais, nós já recuamos! Parem com as bombas!’

Em vão. Só pararam quando o senador Roberto Requião subiu ao palco do carro de som. Hoje nossa dignidade nos foi tirada. Nossa humanidade nos foi arrancada. Hoje fomos tratados como bandidos, e não como profissionais graduados, com especialização, concursados e com anos de carreira.

São 150 feridos (devido a tiros de borracha e mordidas dos cães da polícia). Oito em estado grave e suspeita de duas mortes. Hoje temi por minha vida. E senti vergonha de ser paranaense e viver em um regime de fascismo liderado por este que devia governar o nosso estado.”

Leia aqui todos os textos de André Falcão

O depoimento acima, atribuído à professora no Paraná, Suzel Faedo, foi transcrito das redes sociais. O governo fascista a que se reporta é capitaneado por Beto Richa, do PSDB.

É ensurdecedor o silêncio de Aécio Neves, FHC e demais tucanos, além dos MBLs e novéis grupos verdes-amarelos, sobre covardia criminosa contra os professores. Mas o mesmo silêncio do inconformado derrotado não é ouvido para defender o retrocesso que é a terceirização ampla, geral e irrestrita, tampouco, feito desocupado sem um bom lavado de roupa, para criticar a presidente Dilma por optar pela internet para a fala de 1º de maio.

Leia também: “Onde estavam os paneleiros quando os professores apanharam?”

Enquanto isto, você vê os jovens de agora a tripudiar da dita selvageria, vazios, frios e cruéis na sua ignorância imbecilizada. É desalentador.

*André Falcão é advogado e autor do Blog do André Falcão. Escreve semanalmente para Pragmatismo Político

Acompanhe Pragmatismo Político no Twitter e no Facebook.