‘Agressor sexual, você não vai vencer’. Estudante de Oxford vítima de agressão sexual relata o ataque sofrido em uma carta publicada no jornal da universidade. A carta foi compartilhada milhares de vezes e repercutida na imprensa
Uma estudante da Universidade de Oxford, na Grã-Bretanha, vítima de um ataque sexual, escreveu uma carta aberta ao agressor, dizendo que ele “não vai vencer a batalha”.
Ione Wells relata o ataque em uma carta publicada no jornal da universidade, Cherwell. A carta foi compartilhada milhares de vezes e apareceu em diversos jornais britânicos. As informações são do The Telegraph e da BBC.
A estudante afirmou que não permitirá que o episódio a mude e que sairá mais forte da situação. Ela também usou o espaço para argumentar que os ataques nunca são culpa da vítima e criou a campanha #NotGuilty (“Não sou culpada”, em tradução livre), nas redes sociais.
Wells, de 20 anos, foi atacada no dia 11 de abril a caminho de sua casa, após sair da estação de metrô Chalk Farm, em Londres.
Na carta aberta, ela descreve como foi derrubada no chão por um homem que a segurou pelos cabelos, a arrastou no chão, rasgou suas roupas e agarrou seu seio.
A garota conseguiu gritar e chamar a atenção de vizinhos e familiares, que foram até a rua.
O rapaz que a atacou, de 17 anos, fugiu, mas foi preso pouco depois na região. Ele confessou o crime de violência sexual na última segunda-feira e deverá comparecer perante um tribunal nesta quarta-feira.
Wells abriu mão do anonimato para poder lançar a campanha “Não sou culpada”, ressaltando o fato de que tais ataques não são culpa das vítimas.
“Fico feliz que algo tão inquietante e doloroso tenha se transformado em algo que me desperte sentimentos positivos”, afirmou.
Ela diz que quer continuar com sua vida e não experimentar a culpa que outras mulheres vítimas do mesmo crime podem chegar a sentir.
Em seu perfil no Twitter, a estudante agradeceu o apoio: “A todos da comunidade #NotGuilty – MUITO OBRIGADA. Lembrem-se de que o meu caso é apenas um de muitos, muitos outros. Há muito mais pelo que lutar!”
Leia um trecho da carta:
“Eu não posso endereçar essa carta a você porque não sei o seu nome… E tenho uma pergunta.
Quando você foi pego no circuito de câmeras de segurança me seguindo em minha vizinhança, quando você esperou o momento em que eu estivesse na minha rua para me abordar, quando você apertou sua mão contra meu rosto até que eu não pudesse respirar, quando você me empurrou para o chão até que eu sangrasse, quando eu consegui me libertar da sua mão o suficiente para poder gritar, quando você me puxou pelos cabelos, quando bateu minha cabeça contra o chão e me disse que parasse de gritar, quando minha vizinha viu você e gritou, e você a olhou nos olhos e continuou a me chutar.
Quando você rasgou meu sutiã à força e agarrou meu seio, quando você nem tentou pegar meus pertences porque queria meu corpo, quando não conseguiu ter meu corpo porque meus vizinhos e familiares saíram de suas casas e você os viu. Quando as câmeras flagraram você fugindo após me atacar… e o filmaram seguindo outra mulher 20 minutos depois, da mesma estação de metrô, logo antes de ser preso sob suspeita.
Quando eu fiquei na delegacia até as 5h da manhã e você estava sob custódia policial quatro andares abaixo de mim, quando eu tive que entregar minhas roupas e as fotos dos ferimentos em meu corpo nu à equipe de peritos – você parou para pensar sobre as pessoas que estão na sua vida?
Eu não sei quem são as pessoas na sua vida. Eu não sei nada sobre você. Mas eu sei de uma coisa: você não atacou somente a mim naquela noite. Eu sou uma filha, uma amiga, uma namorada, uma aluna, uma prima, uma sobrinha, uma vizinha, eu sou a funcionária que serviu café a todas as pessoas naquela rua. Todas as pessoas que se relacionam comigo formam minha comunidade, e você atacou cada uma delas. Você violou a verdade pela qual nunca deixarei de lutar e que todas essas pessoas representam – que há mais pessoas boas do que ruins no mundo.
Minha comunidade não se sentirá insegura ao andar para casa à noite. Entraremos no último metrô para casa e andaremos por nossas ruas sozinhas, porque não internalizaremos e nem nos submeteremos à ideia de que estamos nos colocando em risco ao fazê-lo. Continuaremos nos juntando, como um exército, quando qualquer membro de nossa comunidade for ameaçado, e essa é uma batalha que você não vai vencer.”
BBC
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