O ex-deputado, médico e atual secretário-geral da CBF, Walter Feldman, deu um golpe baixo no jornalista Juca Kfouri – que está internado recuperando-se de complicações decorrentes de uma cirurgia – com o aval da Folha de S.Paulo
Alberto Dines, Observatório da Imprensa
O valente jornalista Juca Kfouri, que desde a sexta-feira (15/5) está internado no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, recuperando-se de complicações decorrentes de uma cirurgia, sofreu no domingo (17) um covarde ataque do médico & cartola Walter Feldman, atual secretário-geral da CBF, nobre e honestíssima entidade esportiva que tantas alegrias tem proporcionado ao cidadão brasileiro.
Na nobilíssima página 3 da Folha de S.Paulo – ultimamente engajada em promover disputas e fazer barulho a qualquer preço – o celebrado colunista foi atacado pelo esculápio com a clara cumplicidade do jornal, ciente de que o seu colaborador encontrava-se hospitalizado.
O texto “Paixão e rancor” é medíocre, maroto, apequenado, rasteiro, desprovido de qualquer atributo intelectual que justifique a privilegiada exposição. Juca Kfouri é um gigante do jornalismo brasileiro e não apenas do jornalismo esportivo. Nunca fugiu ao debate, enfrenta com reconhecida galhardia – e sempre com muita graça – todos os tipos de desafetos. Mas não se pode esperar que ainda na UTI tenha condições de tourear este bode enfezado.
A “nova” CBF tão ardentemente defendida pelo ex-deputado federal e servidor de tantos patrões é idêntica à velha CBF. Isto está claro. A reportagem de capa da presente edição de CartaCapital (nº 850, de 20/5), “CBF: barco furado”, denuncia exatamente este continuísmo.
Este observador já serviu de testemunha de defesa de Juca Kfouri em vários processos e ficará honrado se convidado para novas missões. Mas não se sente habilitado a falar em nome de um expert do porte de Juca.
Desprovido de qualquer fair-play e esportividade, Walter Feldman não perde por esperar.
Em seu blog, o jornalista Mário Magalhães, do UOL, comentou o episódio. Leia abaixo:
De onde menos se espera é que não sai nada, já dizia o Barão de Itararé, tendo ou não inventado a tirada certeira.
Novo secretário-geral da famigerada Confederação Brasileira de Futebol, Walter Feldman havia se notabilizado pela relevante sugestão apresentada como deputado federal: a introdução do pôquer como jogo nas escolas públicas.
De pátria de chuteiras a pátria do carteado, já pensou?
Que nada mais inspirado saísse de tal cachola era o esperado, mas o neocartola excedeu-se: com o intuito de barrar legislação que tenta moralizar um pouquinho a administração do futebol, o ex-secretário de Gilberto Kassab e agora operador de Marco Polo Del Nero escreveu artigo desvairado atacando o blogueiro Juca Kfouri, insultando o jornalismo e esbanjando intolerância.
O texto do cartola foi publicado domingo na “Folha”.
O arrazoado do auxiliar do continuador de José Maria Marin, aquele que sucedeu Ricardo Teixeira, o herdeiro político de João Havelange, tentou responder a coluna de Juca Kfouri veiculada no mesmo jornal.
A despeito da defesa que faz de si e do patrão, o texto de Walter Feldman trai diversionismo. Lá pelo fim, ele pontua: “Juca e eu estamos em campos opostos. Ele gosta de medida arbitrária. Eu, do debate democrático”.
Eis a questão central. A CBF articula lobby no Congresso para barrar medida provisória de março que “institui o Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro”.
Embora com limitações, a medida com força de lei desincentiva o _repare no eufemismo_ uso privado que dirigentes muitas vezes fazem do patrimônio de entidades esportivas.
Os campos estão definidos: o pessoal do Bom Senso apoia a MP, e a CBF se opõe, conduzindo a cruzada da cartolagem embalada pelo chilique do secretário-geral de Del Nero.
Feldman ataca o jornalista ao se referir a inexistentes “ofensas pessoais que Juca Kfouri pratica”.
Kfouri anotara: “Feldman é uma figura singular na vida pública nacional. Basta dizer que trocou o braço direito de Marina Silva, da ‘nova política’, pelo de Marco Polo Del Nero, da velhíssima”.
A observação do colunista é objetiva, procedente e jornalística, pois o secretário-geral é figura pública e há interesse público nas ações da entidade que controla o futebol e a seleção.
Não há “ofensa pessoal”.
A crítica seria injusta, embora legítima, se o novo comando da CBF equivalesse a novos valores. Não é o caso.
Considere-se recente reportagem de “O Estado de S. Paulo” que recupera informações conhecidas e acrescenta outras: contrato celebrado ainda na gestão de Ricardo Teixeira concede às empresas organizadoras de amistosos da seleção poderes sobre a convocação.
Contrato da “velha” CBF.
Mas que foi defendido pela “nova” CBF de Del Nero e Feldman, nesta nota.
Mais detalhes do velho-novo procedimento da entidade estão aqui.
O subordinado proclama, em seu artigo: “O presidente Marco Polo Del Nero assumiu em 16 de abril pronto para dar uma arrancada modernizadora para o futebol brasileiro”.
Não é fato e seria surpreendente: o capo da CBF fulgura como protagonista da cartolagem desde os tempos em que era vice-presidente da Federação Paulista de Futebol capitaneada por Eduardo José Farah.
O Farah!
Em seguida, Del Nero exerceu por anos a presidência da FPF.
Mais tarde, assumiu como o segundo de Marin na CBF.
Que “arrancada modernizadora” ele ofereceu como bambambã das carcomidas gestões Farah e Marin?
Será que a “arrancada modernizadora” começou com Del Nero e Marin comprando apartamentos de luxo, santa coincidência!, no mesmo prédio da Barra?
Walter Feldman diz: “Tenho aversão á intolerância”.
O tom truculento que empregou demonstra o contrário.
Ele é propagandista de quem, Del Nero, foi apontado por uma revista como veterano membro do violento Comando de Caça aos Comunistas _ainda é tempo de o presidente da CBF negar.
Del Nero, o favorito de Marin, o então deputado que bradou contra o jornalismo da TV Cultura pouco antes de o diretor de jornalismo da emissora, Vladimir Herzog, ser preso e morto na tortura.
Exemplos de tolerância?
No terreno mais objetivo, Feldman proclama que, “se [um clube] atrasar salário, perde pontos”.
No mesmo domingo, Juca Kfouri explicava, com eficiência de tridente barcelonista: “Mas, atenção, o que a CBF chama de fair play financeiro é para inglês ver, porque depende de denúncia de atleta. Na Federação Paulista de Futebol não funcionou e na CBF não funcionará. Ou você acha que os clubes que estão participando do Brasileirão estão em dia com suas obrigações? Agora, imagine o que aconteceria para um jogador corintiano que denunciasse o clube. Não pisar mais no Corinthians, ou ter de contratar segurança para andar em São Paulo, seria o de menos. Nenhum outro clube lhe daria emprego, porque os cartolas, em regra, também são corporativistas”.
Mais claro _e honesto_ impossível. Por isso Kfouri incomoda.
O secretário-geral insulta o jornalismo ao sugerir que espírito crítico seja sinônimo de torcida contrária: “Juca é contra o ‘fair play’, como é contra tudo o que acontece no futebol. Dentro e fora de campo, desmerece vitórias e comemora insucessos com mais vigor do que qualquer adversário. Eu vejo magia nos campos. Ele vê bruxarias. Eu acho que futebol é paixão. Ele acha que é rancor”.
Digo com a experiência de repórter que cobriu a CBF por muitos anos: parece o Ricardo Teixeira falando.
Ressurge a velha ladainha de poderosos contrariados com o escrutínio público, democrático e jornalístico: queixam-se de que, se o jornalismo publica que há uma epidemia de meningite em curso, é porque pretende sabotar a saúde pública; se revela os Papéis do Pentágono, serve ao “inimigo”; se difunde notícias sobre a rendição do Japão, só pode ser traição ao imperador; se escarafuncha a corrupção, é porque odeia o país; se denuncia a tortura em Abu Ghraib, é coisa de amigo de terrorista; se mostra a roubalheira no esporte, torce contra a amarelinha.
A esse discurso, Teixeira, atual morador de Boca Ratón, juntava dezenas de processos, em nome próprio ou da CBF, contra Juca Kfouri.
Cada processo valeu ao processado como um diploma de integridade jornalística.
Walter Feldman cometeu: “Eu amo futebol. Ele [Juca Kfouri], talvez, simplesmente, não ame”.
Eis, aí, outro ataque a quem, Juca Kfouri, vibra e sofre com o futebol _ainda que não vibrasse e não sofresse, não deixaria de ser o jornalista decente que é.
E insulto aos jornalistas, aos quais cabe ser sobretudo fiscal do poder, e não bajulador de cartola.
Baixaria intolerante: para contestar ideias incômodas, o secretário-geral busca a desqualificação pessoal do crítico.
Só faltou o “ame-o ou deixe-o”.
O Barão de Itararé sabia mesmo das coisas.
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