Mailson Ramos*
O discurso foi latente e inflamado. Se não sufocou pela publicidade, exigiu dos telespectadores uma noção apurada do que está acontecendo. Na verdade está aí a chave mestra do entendimento sobre o programa do PSDB, exibido via rede nacional pela propaganda eleitoral gratuita, na noite de terça (19/05). A conjunção linear entre propaganda e sentimento mostrou expressões e rostos preocupados com o Brasil que vai do abismo abaixo. Cores negras, fundo cinza. Uma importante definição icônica da tragédia brasileira, porque como dizem os colunistas de uma revista oposicionista, isso aqui é a Banânia. Foi neste tom que o PSDB, através de seus políticos, atentou ao povo para a seguinte mensagem: não somos oposição ao Brasil; somos oposição ao governo e aos seus desmandos. Ora, que mentira mais ordinária.
O PSDB atira com as mesmas armas com que um dia foi alvejado. Não sabe, porém, que o marketing pode se voltar contra os seus políticos. Talvez a própria campanha do medo, desta feita, não obtenha bons resultados. O brasileiro não espera discursos e não está tão alheio à compreensão da política e da comunicação. O brasileiro precisa de uma oposição verdadeira que trabalhe em prol do país e não que o achincalhe no Waldorf Astoria, em Nova York. Estamos visualizando mais uma etapa da história brasileira em que o protagonismo da oposição foi trocado pela canalhice, afinal de contas, o governo brasileiro, um dia, já teve uma oposição ferrenha e não um arremedo como são PSDB e o DEM.
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“A presidente Dilma mentiu”. O discurso da rejeição está nas entrelinhas do texto lido pelos tucanos. Mas quem mente mais? Quem não se satisfaz ao mentir o tempo inteiro? Quem andou com as mãos nas calças com medo de ser investigado em esquema de corrupção comprovado pela justiça? Os erros do governo e da presidente, se são graves, devem ser denotados e questionados pela população que a elegeu – e até por aqueles que não a elegeram -, mas não devem ser jamais bandeira de ordem de um partido cujos políticos estão enterrados até o pescoço em falcatruas de variados gêneros.
Se os partidários do PSDB tivessem moral para questionar os erros do governo e se a oposição viesse organizada de um partido ético, por exemplo, não haveria motivo algum para refutar o discurso. Mas como é possível confiar que um oposicionista está lutando contra a corrupção do governo se ele recebeu 5,5 milhões de propina de uma estatal? Como é possível defender que o discurso de um sujeito é ético e responsável se ele deixou um rombo de 7,7 bilhões nos cofres do Estado que governava? Em nome de poder, o PSDB vai brigar com o governo até o fim de suas forças. E depois, já sobrevive com a ajuda de aparelhos… Televisores.
O PSDB se mostrou, nesta noite de terça-feira, feroz contra a corrupção. Mas esqueceu-se de citar que apoia as investigações da CPI do HSBC e da Operação Zelotes. Aliás, o amigo navegante tem ouvido falar destas duas investigações? Evidente que não. Porque interessa a muita gente varrer o lixo de um lado e escondê-lo do outro. Quem está a favor do Brasil defende investigação onde quer que seja e não apenas do outro lado do muro. De mentiras e mentiras, os tucanos revelam suas faces e seus gostos. Nada parecido com o que de fato são. O Brasil precisa sim de uma oposição para brigar com o governo. Mas é preciso dizer de antemão que ela não deve ter os mesmos vícios encarnados de quem um dia quebrou o país por três vezes.
*Mailson Ramos é escritor, profissional de Relações Públicas e autor do blog Nossa Política. Escreve semanalmente para Pragmatismo Político.
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