Mulheres ‘indignadas’ e de esquerda assumem o poder em Madri e Barcelona. Quatro das dez maiores cidades espanholas serão governadas pela esquerda
Os dois maiores municípios da Espanha, Madri e Barcelona, passaram a ser governados, desde sábado, por mulheres de esquerda e ‘indignadas’. Governada pelo PP (Partido Popular), de direita, há 24 anos, Madri será comandada pela ex-juíza Manuela Carmena: “Agora todos e todas somos prefeita”, disse no Twitter. “Obrigada por fazer possível o impossível”, disse, por sua vez, a prefeita de Barcelona, Ada Colau, conhecida pelo ativismo contra os despejos. Ambas participaram dos protestos conhecidos como 15M, ou movimento dos indignados.
Assim, após as eleições consideradas “históricas” pela imprensa espanhola, das dez cidades mais povoadas do país, quatro serão comandadas pela esquerda: além de Barcelona e Madri, Zaragoza e Valencia terão governos destinados a frear a desigualdade. Em entrevista ao sítio Opera Mundi, Rosa Cañadell Pascual, articulista, ativista, professora e psicóloga, afirmou que “os movimentos sociais foram fundamentais para a mudança do cenário político destas eleições e para a derrota da direita”.
Com acordos entre o PSOE, o Podemos e outras formações nacionalistas e independentes, a esquerda tirou governos históricos do PP e garantiu o poder em 37 das 54 capitais de província do país. O partido, que além de liderar o governo era a principal força dominante a nível local, terá apenas 17 das 43 capitais que antes governava.
Já os socialistas do PSOE conseguiram arrecadar para si 16 capitais (antes tinham nove), entre as quais importantes cidades como Sevilha, Córdoba e Palma de Maiorca.
Empolgado com o resultado, o líder do Podemos, Pablo Iglesias, afirmou que o acordo com o PSOE que garantiu a prefeitura de Madri pode voltar a se repetir: “[Os socialistas] vão nos apoiar neste governo, estamos muito satisfeitos, e também convencidos de que no futuro também seremos capazes de chegar a acordo para ganhar as eleições [legislativas] do PP”, como afirmou em declarações ao canal La Sexta.
“As principais cidades estão nas mãos de forças políticas e de lideranças que defendem a mudança de 180 graus, pela transparência e por políticas ao serviço da maioria empobrecida”, considerou o número dois do Podemos, Íñigo Errejón.
Madri
O resultado em Madri foi possível após acordo com o PSOE (Partido Socialista Trabalista Espanhol), que apoiou Carmena com nove votos, além dos 20 que o partido Agora Madri obteve nas eleições. Com o resultado, a prefeita terá tranquilidade de implementar a plataforma defendida durante a campanha.
Carmena foi advogada trabalhista nos anos 1970 e depois juíza de vigilância penitenciária. Sua vitória foi uma das maiores surpresas das eleições de 24 de maio, uma vez que as pesquisas apontavam uma vitória mais folgada de Esperanza Aguirre (PP), que obteve o voto de 21 vereadores.
“Queremos fazer uma política diferente”, afirmou Carmena ao jornal espanhol Público, ao lembrar os vereadores que todos são “servidores dos cidadãos de Madri”, que estão “a seu serviço” e que querem que nesta gestão governem “escutando”.
Entre suas principais propostas para a cidade com 16% de desemprego estão a paralisação das grandes operações urbanísticas em andamento e a auditoria da dívida e contratos municipais. Entre as primeiras medidas que prometeu tomar estão ações destinadas a crianças pobres, a quem quer garantir comidas diárias e pessoas em risco de serem despejadas.
Barcelona
Ada Colau tomou posse sob gritos de “Sim é possível”, palavra de ordem repetida pelas campanhas independentes. “Estou muito grata à cidadania por ter tornado isto possível”, afirmou diante da multidão que acompanhava a cerimônia.
Colau, que será a primeira mulher a governar Barcelona, ganhou projeção nacional ao participar das PAH (Plataforma dos Afetados por Hipotecas), organizado por pessoas que são despejadas de suas casas por não pagar hipotecas.
A professora Pascual ressaltou que a candidatura encabeçada por Colau: Barcelona en comú’ (Barcelona em comunidade) “não é um partido político, mas uma candidatura construída a partir de vários partidos (Iniciativa para a Catalunha, Esquerda Unida e Alternativa, Podemos, Ganhemos Barcelona, Procés constituent [Processo Constituinte]) juntamente com lideranças sociais, dos bairros e de distintos setores. É, portanto, uma nova formação política, de confluência com uma participação ativa dos movimentos sociais. O que aqui se chama agora ‘uma nova forma de fazer política’ e que também reivindica a formação do Podemos”.
Opera Mundi
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