Juiz federal ordena libertação do ex-Pantera Negra Albert Woodfox, hoje com 68 anos, após 43 anos na solitária. Woodfox é o mais antigo prisioneiro norte-americano em um regime de confinamento
Após 43 anos confinado em uma solitária na prisão de segurança máxima em Louisiana, o ex-Pantera Negra Albert Woodfox, de 68 anos, recebeu, nesta segunda-feira (08/06), a ordem de um juiz federal para que ele seja colocado em liberdade. Woodfox é o mais antigo prisioneiro norte-americano confinado em um regime de confinamento. O estado de Louisiana, no entanto, afirmou que recorrerá da decisão.
Woodfox, último dos detentos conhecido como “Três de Angola” a ser libertado, foi colocado, juntamente com Robert Hillary King e Herman Wallace no regime de isolamento em 18 de abril de 1972, acusado pela morte de um guarda em uma rebelião. King foi libertado em 2001 e Wallace morreu alguns dias após ser solto, em 1º de outubro de 2013.
Woodfox foi julgado e condenado duas vezes pela morte do guarda e teve ambas as acusações revogadas por tribunais de recurso, mesmo assim continuou preso.
O Ministério Público de Louisiana queria acusá-lo uma terceira vez, mas o juiz James Brady ordenou sua libertação imediata e proibiu os procuradores de seguirem com o caso, com o argumento de que ele nunca será julgado com imparcialidade pelo estado de Louisiana.
Ao decidir pela libertação, Brady afirmou que “Mr. Woodfox permaneceu em condições extraordinárias de confinamento por aproximadamente 40 anos, e ainda hoje não há condenação válida para mantê-lo na prisão, ainda mais em uma solitária”.
Ele também apontou cinco fatos que sustentam a decisão: a idade e a saúde frágil de Woodfox; a sua limitada habilidade para apresentar a defesa em um terceiro julgamento devido à falta de testemunhas; a falta de confiança desta corte no Estado para provar um justo terceiro julgamento; o preconceito contra o senhor Woodfox, fazendo-o passar mais de 40 anos em um confinamento solitário, e, finalmente, o fato de que o senhor Woodfox foi previamente julgado em duas oportunidades e iria encarar um terceiro julgamento por um crime que ocorreu há mais de 40 anos.”
Repercussão
Apesar da decisão, Aaron Sadler, porta-voz do procurador-geral de Louisiana, Buddy Caldwell, disse que o seu gabinete “fará tudo para garantir que o assassino permaneça na prisão e que continue a pagar pelas suas ações” e que o estado busca uma apelação de emergência para que Woodfox continue preso.
A Anistia Internacional, por sua vez, pediu que Caldwell “pare de perseguir uma campanha de vingança para tentar acusar novamente um homem que passou mais de quatro décadas em um confinamento cruel, após um processo legal contaminado por falhas”.
Já King disse estar “otimista de que desta vez Albert será libertado” e apontou que não considera que ele “terá problema para se aclimatar. Ele tem uma boa ideia sobre o que sua condição implicava. (…) Ele foi capaz de perceber os efeitos negativos e estará apto a pensar além do que permite sua cela 6X9”.
A própria viúva do guarda morto em 1972, Teenie Rogers, se integrou ao movimento pela libertação dos três prisioneiros. No documentário In The Land of the Free, de 2010, ela diz acreditar na inocência dos três e em 2014, em declarações à Amnistia Internacional, Rogers ressaltou que acredita “que os ‘Três de Angola’ são inocentes. Li todas as provas e ninguém me convence do contrário: eles são inocentes”.
Três de Angola
Os três Panteras Negras foram detidos em 1971 por um assalto à mão armada e foram levados para o Estabelecimento Prisional do estado do Louisiana — a maior prisão de segurança máxima dos EUA, conhecida como Angola, em referência a uma antiga plantação para onde os escravos eram levados no século 19. Eles negaram qualquer participação em atos criminosos.
Meses depois, Woodfox e Wallace foram acusados, julgados e condenados pelo homicídio do guarda prisional Brent Miller e enviados para a solitária. King, por sua vez, foi acusado de estar envolvido na morte do guarda, mas não foi julgado; foi condenado pela morte de outro detento.
Apesar das condenações, eles sempre negaram envolvimento nas mortes. Integrantes do Panteras Negras — movimento em defesa dos direitos dos negros e contra a violência policial — eles afirmaram durante todo o tempo em que estiveram detidos que foram colocados na solitária por lutarem por melhores condições de vida na prisão.
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