Presos e exilados durante a ditadura, Gilberto Gil e Caetano Veloso mostram revolta com movimentos que pedem 'intervenção militar' e criticam o renascimento de forças reacionárias no Brasil. "É maluquice. A questão não é que sejam conservadoras. O problema é que são reacionárias, são forças de reação a qualquer progresso."
Gilberto Gil e Caetano Veloso, que já foram presos pela ditadura em 1968, afirmaram que ficaram revoltados durante as manifestações no mês de março e abril quando viram alguns grupos pedindo a “intervenção militar”. Em recente entrevista para a “BBC”, Caetano declarou que isso era muito “ofensivo” para eles.
Ainda durante a entrevista, Caetano mostrou preocupação com o fortalecimento do poder de figuras como Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na política brasileira. Segundo ele, essa ação vem trazendo uma movimentação conservadora “meio apavorante”.
“Esses projetos que estão sendo votados no Congresso são horríveis, eu não gosto dessa movimentação, desse negócio – diminuição da maioridade penal, bancada da bala, essa tentativa de restringir mais ainda o aborto, não abrir para uma legalização do aborto. Toda essa tendência conservadora, essa pauta”, declarou.
Caetano também declarou ser evidente que projetos políticos de Eduardo Cunha e Renan Calheiros estão em jogo durante toda essa movimentação.
“Principalmente do presidente da Câmara (Cunha), que você vê que tem muito futuro político, e é mais moderno. Mas é um modernismo conservador, meio apavorante. Não me sinto bem com o que está acontecendo ali”, relatou.
Confira abaixo mais trechos da entrevista:
Conservadorismo e pedidos de intervenção militar
“Isso para mim é ofensivo. É ofensivo à minha sensibilidade e à minha inteligência. Aquilo era uma coisa de algumas pessoas, uma maluquice. Mas é sintoma. Há uma questão no mundo com isso mesmo, o renascimento de forças nitidamente reacionárias. A questão não é que elas sejam conservadoras. O problema é que são reacionárias, são forças de reação a qualquer progresso”, diz Caetano.
Cunha e Calheiros
Nas movimentações em curso, Caetano diz ser evidente que também estão em jogo projetos políticos dos presidentes da Câmara, Eduardo Cunha, e do Senado, Renan Calheiros.
“Principalmente do presidente da Câmara (Cunha), que você vê que tem muito futuro político, e é mais moderno. Mas é um modernismo conservador, meio apavorante. Não me sinto bem com o que está acontecendo ali.”
Show em Israel
“Nós o consideramos. Nós refletimos sobre os argumentos. São argumentos fortes, e verdadeiros até certo ponto. Não a ponto de que devemos considerar Israel uma sociedade de apartheid. É um regime democrático. Tenho empatia pelo povo, já estive lá tantas vezes. E nas duas últimas vezes em que fui tocar lá também enfrentei objeções, com o mesmo tipo de movimentação internacional para me dissuadir de ir. Mas nós vamos”, diz Gil a respeito dos pedidos para que não se apresentem em Israel.
PT no poder
Gil e Caetano concordam que o momento é difícil e consideram que o ciclo do PT no poder está chegando ao fim.
Nas eleições presidenciais do ano passado, ambos apoiaram Marina Silva no primeiro turno. No segundo, Caetano acabou votando em Dilma; já Gil, que foi do governo petista por cinco anos como Ministro da Cultura de Lula, não apoiou a permanência do partido.
“Eles (o PT) já estão no poder há mais de 12 anos. Estamos querendo uma movimentação, uma mudança. Outros grupos, outro conceito, um outro planejamento para o Brasil na liderança”, diz Gil.
“Votei na Dilma porque todos aqueles grupos de direita estavam se unindo contra ela, e eu não simpatizava com eles”, afirma Caetano.
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com informações da BBC
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