Não desvirtuem Jesus
André Falcão*
Jesus, o querido Jesus Cristo, foi um sujeito porreta além da conta. Jesus não era careta, preconceituoso, nem ignorante; não era fascista, reacionário, ou egoísta; não era racista, xenófobo, tampouco homofóbico; não era hipócrita, não era sonso, cínico ou canalha, muito menos criminoso, embora não titubeasse em dar boas chicotadas nos costados de uns capitalistas de merda de sua época que, nessa condição, ousaram desrespeitar o templo do Seu Pai.
Jesus não veio trazer a paz! Não a dos calhordas, dos sepulcros caiados, que não servem ao “reino de Seu Pai”. Jesus veio pra tumultuar, abalar as estruturas políticas, sociais e familiares carcomidas pelo desrespeito, pelo ódio, pelo puritanismo de meia pataca. Jesus mandou que pai e mãe fossem largados, para segui-Lo! Sacou? Espero que você não tenha entendido como se a Sua ordem significasse deixar os pais à própria sorte… É mais ou menos como quando afirmou da dificuldade intransponível de um rico entrar no reino dos céus. Lembra da metáfora da agulha no palheiro? Pois é… Jesus era bárbaro! Um revolucionário incorrigível! Jesus era Dez; ou é Dez, se você O tem vivo, como particularmente O tenho.
Tenho a ousadia de fazer essas afirmações contundentes acerca do velho Jesus porque assim aprendi, sobre Ele, não num evangelho apócrifo, mas naqueles mesmos legitimados pela igreja católica apostólica romana. Fosse somar o que pude perceber do camarada Cristo em alguns daqueles outros, de autenticidade não aceita por Roma, aí é que O Cara se apresenta mesmo como Tal, porque ainda mais humano e menos divindade. Seja lá como for, ou como você O entenda, ou como seja a sua crença, ou descrença, o fato é que Jesus Cristo foi tudo o que boa parte de seus pretensos seguidores de hoje, por sua prática diária, não compreenderia O fora. Principalmente uns espécimes desgraçados com que somos obrigados a nos deparar mais amiúde neste país.
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Refiro-me aos Felicianos, Malafaias, Bolsanaros, Cunhas, Maltas, Fidelix e outros tantos do mesmo naipe. Refiro-me aos inúmeros brasileiros mais ou menos anônimos, de todas as idades, que desgraçadamente seguem a mesma cartilha do preconceito, da crueldade e da falta de compaixão, expondo diuturnamente suas vísceras putrefatas. Essa turba me faz concluir que o Homem não esteve no evento autodenominado Marcha para Jesus, pretensamente realizado para Ele. Por outro lado, creio que esteve bem ao lado da travesti simbolicamente pregada à cruz, durante a Marcha Gay de SP.
*André Falcão é advogado e autor do Blog do André Falcão. Escreve semanalmente para Pragmatismo Político