Por que Roger Waters insiste com Caetano e Gil?
Roger Waters voltou a escrever para Caetano Veloso e Gilberto Gil após os brasileiros não responderem ao seu primeiro contato. O ex-baixista do Pink Floyd já tinha feito o mesmo apelo aos Rolling Stones, Neil Young e Lauryn Hill
O ex-baixista do Pink Floyd, Roger Waters, voltou a apelar para que os brasileiros Caetano Veloso e Gilberto Gil desistam do show em Tel Aviv, Israel, em prol da causa palestina. Em maio, Waters havia feito um primeiro pedido, que foi ignorado pelos brasileiros. Essa semana o músico inglês escreveu uma nova carta a Gil e Caetano.
Para o jornalista Kiko Nogueira, Roger Waters é um dos últimos músicos ativistas que restam. “Waters é hoje o último roqueiro ativista importante numa turma dominada por gatos gordos e ex-alcoólatras com implantes de cabelo fazendo turnês para sustentar filhos ilegítimos. Já se referiu aos muros dos assentamentos de colonos como ‘obscenidades que deviam ser derrubadas’. Chegou a usar uma estrela de Davi, junto com símbolos de regimes totalitários à direita e à esquerda, estampada num boneco inflável de um porco numa apresentação […] A briga de Waters é justa e a indústria da música precisa de um chato talentoso para lembrar os velhotes que dinheiro já foi uma parte do negócio, mas não a alma.”, afirma.
Waters costuma ser chamado de ‘anti-judeu’ e se defende: “Você pode atacar a política de Israel sem ser anti-judeu…”. O apelo que faz agora a Gil e Caetano já foi feito anteriormente a diversos outros artistas. Poucos foram os músicos que deixaram de se apresentar em Israel por causa de um pedido seu. A cantora Lauryn Hill é uma delas. Mick Jagger [Rolling Stones], por sua vez, recusou o pedido de Waters.
No novo texto que escreve para Caetano e Gil, Waters fala sobre dois jovens garotos palestinos – Jawhar e Halabiya – que sonhavam e ser jogadores de futebol e que foram covardemente assassinados por forças israelenses. “Assim, Caetano e Gil, Jawhar e Halabiya não estarão presentes no show de vocês em Tel Aviv. No entanto, os homens que os balearam estão livres para comparecer, se desejarem”, explica.
Leia a íntegra da carta:
“Ao Editor,
No mês passado eu escrevi para Caetano e Gil e não recebi nenhuma resposta, mas suponho que eles irão cruzar a linha do piquete e tocar em Tel Aviv. Que seja. Eles devem ter razões imperativas que estão guardando para si mesmos. Em minha carta a eles, eu falei sobre futebol, praias, direitos humanos e sonhos. Aqui vai uma história sobre sonhos e futebol.
Jawhar Nasser Jawhar, 19, e Adam Abd al-Raouf Halabiya, 17, dois jovens e promissores jogadores de futebol, sonhavam em um dia jogar profissionalmente, talvez até defendendo a camisa do país deles. Em 31 de janeiro, enquanto eles caminhavam para casa, saindo de uma sessão de treinamento no Estádio de Faisal al-Husseini em al-Ram, no centro da Cisjordânia, forças israelenses abriram fogo contra eles sem aviso.
Jawhar foi atingido sete vezes em seu pé esquerdo e três vezes no direito. Halabiya foi ferido uma vez em seu pé esquerdo e uma no direito. Médicos no hospital governamental de Ramallah dizem que os dois nunca chutarão uma bola de futebol de novo; na verdade, serão necessários seis meses de tratamento antes que os médicos possam avaliar se eles poderão andar novamente.
Estes dois jovens não foram acusados de nenhum delito, e nenhum inquérito foi aberto sobre as ações dos soldados responsáveis por suas lesões incapacitantes.
Assim, Caetano e Gil, Jawhar e Halabiya não estarão presentes no show de vocês em Tel Aviv. No entanto, os homens que os balearam estão livres para comparecer, se desejarem.
Roger Waters”