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A resposta de Jean Wyllys para a “perseguição de estados socialistas aos gays”

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Repórter do jornal A Tarde questionou Jean Wyllys sobre "homossexuais serem historicamente perseguidos em estados socialistas, como Cuba". Resposta do deputado foi cortada da entrevista

Em entrevista ao jornal A Tarde, o deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) foi questionado sobre as perseguições que homossexuais teriam sofrido em ‘estados socialistas’ ao longo das décadas.

Para embasar o questionamento, o repórter cita Cuba como exemplo de intolerância contra os gays e finaliza: como o senhor concilia a sua defesa do socialismo com a defesa dos direitos LGBT?

A resposta de Jean Wyllys não foi publicada na matéria do jornal e o parlamentar resolveu divulgá-la integralmente em sua página do Facebook, acompanhada da seguinte legenda: Essa é uma das respostas que concedi em entrevista ao jornal baiano “A Tarde” e que não foram publicadas.

Leia a íntegra da pergunta e da resposta de Jean Wyllys abaixo:

Historicamente, Estados socialistas, como Cuba, perseguiram homossexuais, o que levou o próprio Grupo Gay da Bahia (GGB) a exigir que Fidel Castro pedisse desculpas antes de morrer pelas perseguições. Como o senhor concilia a sua defesa do socialismo com a defesa dos direitos LGBT?

Jean Wyllys: Em primeiro lugar, eu não acredito que os regimes instaurados durante boa parte do século XX na União Soviética e no bloco do Leste possam ser considerados socialistas. O que houve na Rússia foi uma revolução que foi traída pelo Stalin e substituída por um regime totalitário horroroso que nada tem a ver com o que a esquerda da qual eu faço parte entende por socialismo. Não há socialismo sem democracia. Na China, o totalitarismo dito comunista deu passo a uma espécie de capitalismo de estado, mantendo o pior dos dois sistemas: o totalitarismo da versão distorcida de socialismo praticada por figuras como Mao e Stalin e a injustiça social das piores formas de capitalismo. É o que acontece hoje na Rússia, que embora não se reivindique mais comunista desde o processo iniciado com a perestroika, mantém quase intacto o modelo totalitário do passado, acompanhado de uma economia de mercado na qual os antigos burocratas do partido viraram empresários e donos do país.

Então, como eu não reivindico esses modelos de sociedade, que foram inclusive muito piores que o capitalismo, não preciso responder por eles. Qual socialismo? O da Coréia do Norte, com um ditador adolescente que herdou do pai o título de chefe supremo da Nação? Isso não tem nada a ver comigo. O caso de Cuba, em minha opinião, é diferente. O modelo cubano tem coisas para criticar e outras para reivindicar, como as inegáveis conquistas sociais, a excelência em educação e saúde, a erradicação do analfabetismo etc. Se você comparar Cuba com Haiti pode ter uma ideia do que seria a vida dos cubanos se Fidel Castro não tivesse derrubado o regime de Batista.

Contudo, a revolução cubana também cometeu erros gravíssimos e, sim, o tratamento que deu aos homossexuais foi uma atrocidade indefensável. No início da revolução, gays eram enviados às unidades militares de apoio à produção (UMAP), onde praticamente eram escravizados, para que “virassem homem”. Os professores homossexuais eram banidos das escolas e os artistas proibidos. Foi um horror. E não tem desculpa para isso, mas também não tem desculpa para o que acontecia exatamente na mesma época na Inglaterra ou nos EUA. Lembremos, a homossexualidade foi considerada crime no Reino Unido até a década de 1980 e durante o governo Thatcher ainda existia a perseguição contra os homossexuais no sistema educativo, como em Cuba. Nos EUA, teve estados que descriminalizaram a homossexualidade bem depois, como Texas, onde ser homossexual foi considerado crime até 2003. Então, a gente precisa contextualizar.

É verdade que, nos seus inícios, o socialismo cubano foi muito homofóbico, em parte por copiar o pior dos russos, em parte porque o povo cubano, majoritariamente camponês e católico, era homofóbico. E o próprio Fidel Castro pediu perdão por isso e reconheceu que o que fizeram com os homossexuais foi horrível. Hoje Cuba tem uma lei de identidade de gênero que o Brasil não tem e que as travestis e transexuais brasileiras invejariam. E há uma mudança, embora incompleta, como houve uma mudança nos EUA e em outros países. A filha do presidente Raúl Castro é uma ativista LGBT. A gente tem que criticar o que deve ser criticado, mas com a informação completa.

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